Empresa: Sonhos e números

Em nossa cultura, a palavra sonho é mais utilizada como algo desejado, diferente do sonho psicanalisado que pode gerar maior compreensão do lado inconsciente da vida e os motivos de nos comportarmos mais de uma forma ou do que de outra. Aqui, para nós, sonho é apenas um tipo de visão de futuro a ser construída através de desdobramentos e planos. Sonhos são visões de futuro de nossos desejos.

O sonho, enquanto espaço íntimo do próprio desejo, ele nos habita o tempo todo (“….eu tinha mesmo era vontade de fazer uma outra coisa…”). Quem de nós já não ouviu ou não se viu nessa situação, desejando estar em outra vida, dimensão ou tempo? Mas, todo esse burburinho de sonhos e ideias raramente chegam à prática ou se transformam em projeto estruturado por fatos, dados e, mais que tudo, números.

Números servem também para dar feição prática e coletiva aos nossos sonhos. Sem os números, os sonhos são esquecidos. Números sem um propósito carecem da vida e de sentido. Das metáforas que mais gosto para descrever as empresas, a mistura de sonhos e números é uma das prediletas.

Todas as vezes que iniciamos ciclos estratégicos para definir prioridades de médio e longo prazos, os números são utilizados para oferecer uma base comparativa ao longo do tempo (do passado, do presente e do futuro que pode ser).

Uma análise epistemológica precisa combinar uma abordagem qualitativa (fenomenológica, profunda e descritiva). Gosto de chamar essa fase, a fase dos sonhos da empresa, onde seus aspectos intangíveis e subjetivos e, porque não dizer, sua concepção seminal, seus sonhos, definem o que a empresa será.

Mas uma empresa não vive só de suas discussões tão necessárias quanto sofisticadas. Elas precisam de tecnologia, processos competitivos e pessoas motivadas exercendo o papel de profissionais capacitados. E de capital para existirem em nosso mundo prático. Da linguagem humana, a ordenação numérica é uma das mais poderosas.

Como líder da organização, deve haver uma simetria ocupacional entre os sonhos e os números para que o conceito de sustentabilidade não seja apenas um discurso politicamente correto. Pode e deve haver períodos em que a gestão dos resultados ocupe mais tempo, mas a liderança precisa de alguma forma restabelecer o equilíbrio entre números e sonhos.

Os sonhos e os números estão presentes o tempo todo em cada um de nós. Nas empresas, não poderia ser diferente, apesar um certo fanatismo numérico de curto prazo por lideranças de baixa sustentabilidade.

Depois de muitos anos, fazendo planejamento (e gerenciamento) estratégico de inúmeras empresas, não são seus resultados numéricos que ocupam lugar privilegiado em minha memória. Mas, sim, as questões únicas, imbricadas com desejos de mudanças com nossos sonhos. Ao fim, percebo sempre que as pessoas se movem pelos sonhos. E só os bons sonhos são capazes de sustentar resultados por longos períodos.

Aposte nos sonhos, depois nos números.

Autor: Murilo Sampaio

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