Sempre que contrato uma pessoa, penso que é para a vida toda. Apesar da volatilidade relacional em que vivemos, esse sempre foi meu desejo. Fazer com que a Pessoa e o Profissional encontrassem em nossas empresas um ambiente de contínua evolução. Acredito que essa é uma das atividades essenciais da liderança.
Ao longo de minha vida profissional, entrevistei mais de mil candidatos e sempre tentei conhecer a pessoa antes de conhecer seu currículo profissional. Entender a pessoa e suas circunstâncias sempre me ajudou a decidir e nem sempre a escolha recaiu naquele candidato com mais méritos profissionais.
Mais da metade das entrevistas é sempre dedicada a conhecer o caráter do candidato. Sua vida e seus valores. Empatia de valores é quase tudo na primeira entrevista, é um encontro entre pessoas que irão se relacionar.
A contratação é do profissional, mas a convivência a ser estabelecida é bem mais ampla e, quase sempre quando não dá certo, são as questões pessoais as responsáveis.
Por outro lado, ao longo de minha vida profissional, tive que interromper muitas vezes o relacionamento pelos mais diferentes motivos. Para a liderança, o rompimento traz sempre um gosto de fracasso quando ocorre. Esse gosto é ainda pior quando você gosta da pessoa e não conseguiu motivar o profissional para a sua própria evolução.
Nas demissões, você se livra do profissional; nas despedidas, você interrompe a convivência com a pessoa.
A situação ainda fica mais delicada quando temos que enfrentar demissões e despedidas ao mesmo momento. Pessoas interessantes, profissionais pouco interessados.
Em quarenta anos de liderança, tive que lidar com quase todas as combinações possíveis. Muitas pessoas que precisam ser estimuladas para sua contínua evolução enquanto pessoas e enquanto profissionais. É um desafio difícil no processo de montar um time inovador, competitivo e cooperativo. Pessoas e profissionais não podem ser separados para que haja uma verdadeira evolução.
A dialética nos ajuda a lidar com essa situação. Existem pessoas adoráveis com performances medíocres e pessoas detestáveis super performantes. O que fazer?
Não há pessoa que não possa performar e não há grandes profissionais que não possam evoluir enquanto pessoas. Cabe à liderança o desafio de tentar harmonizar essa aparente divisão e costurar a evolução do todo.
Com algum sofrimento, experenciei a situação de gostar de pessoas que não performavam e de não gostar de pessoas que performavam profissionalmente. É um desafio que pode (e deve) nos ajudar a evoluir enquanto líderes organizacionais.
Não existe a possibilidade de ter um time só de pessoas adoráveis e profissionais performantes. É uma utopia que deve servir de norte e sempre contextualizada na ideia, na metáfora, que a liderança tem de empresa. Se continuamos a imaginar que a empresa é um sistema de processos, uma máquina, procuramos apenas profissionais performantes. Por outro lado, se imaginamos que a empresa é inspirada em algo autônomo, vivo e diverso, nossa procura se expande, indo além de apenas bons profissionais.
Se expandirmos ainda mais nossa investigação, poderemos constatar que um ambiente inovador tem muito a ver com os perfis das pessoas e não somente com seus currículos profissionais.
Demissão é um fracasso. Despedida é algo doloroso. Evitá-los é um desafio da liderança que começa no primeiro encontro.