Quando deixar a empresa

O primeiro trabalho, de 1979 até o início de 1986 foi marcado pela aprendizagem intensiva. Recém-formado, mudando de cidade, salário baixo, insuficiente para a família que se formava. O primeiro motivo para deixar a empresa é dinheiro. No início, não dá para teorizar muito, precisamos de dinheiro para nos posicionar como adultos. Foi por isso que deixei meu primeiro emprego.

Olhando em retrospectiva, trabalhei para os outros de 1979 a 2013. Trinta e quatro anos em quatro empresas, três delas como como diretor ou presidente. Foram todas boas experiencias, nenhuma como a CEMAN, Central de Manutenção de Camaçari, minha primeira diretoria, aos 29 anos, que me permitiu experiências profundas para entender o papel da liderança e seu alcance na gestão cultural de uma empresa. Era tremendamente motivador sentir que a liderança podia, de fato, reaculturar a empresa. Ensinou-me que uma empresa só cresce se for uma boa escola. A relação com os colegas era harmoniosa e a busca pela inovação fazia parte de nossa rotina. Era uma alegria liderar de fato a CEMAN e progredir junto com ela.

Saí da empresa pelo segundo motivo que nos faz deixar uma empresa: a luta pelo poder e que acaba consumindo mais energia do que o próprio trabalho. Em uma decisão política, os acionistas trocaram a diretoria da empresa. Foi um choque para mim. Sentia-me dono da empresa, mas no fundo, eu era apenas um empregado. A CEMAN acabaria pouco tempo depois. Um final triste para uma empresa tão inovadora.

O terceiro trabalho, já como presidente de empresa, ilustra uma situação comum que é quando você não tem aderência com o negócio da empresa. Precisamos ter o nosso histórico de vida aderente à rotina da empresa que trabalhamos. Fiz minha vida nas áreas de serviços industriais e de geração de energia. Pessoalmente, não recomendo a troca de áreas de trabalho quando você já se tornou diretor nas áreas dominadas. Podemos até trocar de setor dentro da mesma área, mas não trocar totalmente de área. A chance de não dar certo é alta.

No quarto emprego, já como um presidente experimentado, aconteceu uma situação comum que é o confronto entre gestão e propriedade. Passamos a ter muitos embates entre conhecimento e propriedade. Os acionistas passam a entender do negócio menos que a liderança do negócio.

O quarto motivo é, assim, a incompatibilidade entre a propriedade da empresa e sua gestão. Poderia também ser traduzido, no final, em uma relação de pessoas que se deteriora.

Ainda refletindo sobre o passado, vejo que, desde o início, quando comecei a trabalhar com os alemães, ainda com uma visão romântica do mundo do trabalho, eles me ensinavam como deveria pensar ao escolher um trabalho. “Ich will eine Arbeit die mir Spass macht”, um trabalho que me divirta. Jamais esqueci isso. Preciso trabalhar alegre e motivado. Deve ficar claro que não é assim o tempo todo, mas deve ser, sim, o padrão de sua rotina. Inovação vem com a motivação.

Em todos os meus 34 anos como empregado (presidente também é empregado. Não tenham ilusão os presidentes que eventualmente me leem), procurei sentir se eu me divertia enquanto trabalhava. É esse o quinto motivo para deixarmos uma empresa: não nos divertimos mais enquanto trabalhamos.

Assim, dinheiro, briga de poder, mudanças radicais de áreas, incompatibilidade entre propriedade e conhecimento e, principalmente, a ausência de prazer no trabalho são, com a falta de perspectiva de futuro, os principais pontos que devemos observar e administrar para decidir se devemos ou não permanecer ou sair de onde estamos.

Vivenciei tudo isso e, hoje, já com dez anos presidindo empresas e tendo a propriedade parcial das mesmas (apenas uma delas não é controlada por mim), vejo que os motivos que me fizeram sair dos trabalhos anteriores quase que deixaram de existir.

Para um executivo empreendedor, o caminho final a ser percorrido será o da sua própria empresa. Pensem nisso.

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