Primeiros passos na dialética

Caro amigo Murilo,

Para não ficar só nos manuais marxistas, o negócio é ler Hegel. ‘O que é dialética’, de Leandro Konder, da coleção ‘primeiros passos’, pode ser uma introdução.

Os manuais são os de Georges Politzer e existem em duas versões, uma breve, só dele, e outra ampliada por Guy Besse e Maurice Caveing. Existe também um de Martha Harnecker. Neles você vai encontrar as chamadas ‘leis da dialética’, geralmente 4, não me lembro bem, que são consideradas as leis gerais do movimento e da mudança, do desenvolvimento, da própria realidade. Sobre Hegel, qualquer coisa de Jacques d’Hondt é boa. Ele tem dois pequeninhos: ‘Hegel e o Hegelianismo’, e ‘Hegel’, da Biblioteca Básica de Filosofia, edições 70, onde ele fala e cita sobre dialética. Hegel e Marx mesmo nunca escreveram um texto sobre dialética, muito menos um livro. Eles ‘aplicam’ – ou dizem que aplicam – o método dialético, e aí dizem alguma coisa sobre o assunto, de modo esparso, as tais das leis do movimento. Como Marx nos prefácios de O Capital. O livro magno que abrange o assunto é a grande Lógica de Hegel, que se acha em espanhol, dois volumes, um livro maravilhoso, extraordinário. Mas talvez já se encontre em português. Creio que exista também em inglês, a edição completa, e, com certeza, em francês. Como eu disse, as alusões à dialética estão aí mas espalhadas no desenvolvimento da obra. Tem uma obra de Sartre sobre Crítica da Razão Dialética, mas é muito difícil e não vale Hegel.

Isso para o sentido alemão de dialética, que é o que predomina/predominou nos últimos tempos, tem a ver com filosofia alemã, e é lançado por Kant, se referindo às operações sintéticas do pensamento que produzem as grandes ideias norteadores, mas que não têm base empírica: para ele, principalmente a de Deus, de Mundo e de Alma. Mas pode incluir qualquer coisa digna do nome de Ideia (com letra maiúscula) – ideia norteadora, ideia reguladora, ideia abrangente, por definição não realizável nem verificável empiricamente, mas válida como norte.

E tem o sentido pré-moderno, clássico, grego e medieval, de dialética. Arte de argumentar. Aí é a dialética de Platão, que nele é quase sinônimo de filosofia e de método da filosofia: a arte do diálogo, que ascende, por oposições, de opinião parcial em opinião parcial, até as ideias maiores, orientadoras, as essências (das coisas). Lembra o sentido kantiano. Aí, em vez de movimento do real, é movimento do pensamento. Qualquer livro sobre Platão vai falar do método dele e dizer o que é dialética pra ele. Você pode considerar que a maioria dos Diálogos, de Platão, principalmente os da maturidade, é dialética. Para Aristóteles é a arte de argumentar a partir de premissas apenas prováveis, não de princípios incontestáveis. Na Idade Média, é a ainda a arte de argumentar. Mas tanto em Platão como em Aristóteles, ela se distingue da retórica, que, embora possa ter seu uso justificado em alguns casos, no geral é (a retórica) entendida como arte de apenas persuadir, até de enganar, manipular, sem sair do nível das aparências. Nesse caso, a retórica seria o ‘método’, charlatão, dos sofistas.

Você poderia começar dando uma olhada no verbete ‘dialética’, de qualquer enciclopédia maiorzinha, ou mesmo dicionário de filosofia. Começando pela internet. E em seguida passar a Konder e Jacques d’Hondt.

Um Abraço.

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