O medo que nos paralisa

Quando jovens, somos mais corajosos. Diante de desafios, os riscos não são bem ou sequer avaliados.

Lembro-me, recém-formado, sem pensar duas vezes, abandonei minha vida no Rio de Janeiro para ir atrás do sonho de evoluir como engenheiro mecânico e, para tanto, na época, trabalhar com a tecnologia alemã na fabricação de turbinas a vapor era um tremendo desafio. Equipamento para trabalhar em altas pressões, temperaturas e rotações, a turbina a vapor significava o suprassumo da engenharia mecânica.

Sete anos depois, sonho realizado, saí da estabilidade conquistada, abandonei tudo e mudei para a Bahia para liderar a área comercial de uma empresa de serviços industriais. Mudei tudo para chegar à minha primeira diretoria, aos 29 anos.

Minha vida sempre foi assim: mudar para evoluir. Virei CEO aos 38 anos e a cada período de aproximadamente sete anos, mudava tudo de novo. Mas, aos 55 anos, percebi que mudar de presidência não era mais evoluir. Algo não estava mais funcionando. Não sabia muito bem o que era, mas eu me sentia estagnado. Tinha terminado o meu doutorado, vida estabilizada e invejável, mas eu não estava feliz.

Tirei férias e fui fazer, só, o caminho de Santiago de Compostela. Foram dias de intensa solidão e espiritualidade. Recomendo fortemente que todo “ser humano buscador” faça pelo menos uma vez esse caminho. Ali, percebi que estava me faltando coragem para continuar mudando de verdade. A idade havia me retirado o que tinha de melhor: a coragem para sempre mudar.

Mais do que ser presidente, eu precisava dar o passo para um negócio próprio. O medo, contudo, é paralisante. Ter medo é importante para apurar o processo de avaliação ante os desafios que a vida nos coloca, mas em excesso, ele nos retira a liberdade e a alegria de viver. Voltei do Caminho decidido a mudar e meses depois, mais uma vez, aliando experiencia e um certo resgate da juventude, parti para os meus próprios negócios. Hoje, dez anos após a abertura de minha primeira empresa, constato que foi a melhor decisão que tomei em minha vida profissional. Aprendi na prática que, por mais poder que um presidente tenha, jamais será igual ao poder que emana da propriedade.

Hoje, aos 66 anos, o “bichinho da mudança” não me abandonou. Preciso continuar me motivando pelo futuro, a única coisa que temos. A perspectiva do futuro precisa ser nossa maior fonte motivacional independentemente da idade biológica que temos.

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