Não devemos tomar decisões com o fígado

A raiva e emoções congêneres (ressentimento, frustrações, amargura dentre outras) estão associadas ao fígado segundo a Medicina Tradicional Chinesa (MTC). A raiva também é o veneno que tomamos para atingir o outro, ensina um dito popular. 

O fígado é um órgão com múltiplas e importantes funções. Destaco aqui as funções de desintoxicar o organismo e a de nos proteger contra substâncias nocivas. Como disse, são inúmeras as suas funções, mas preciso destacar, não encontramos a de ser um bom conselheiro na tomada de decisões. Decisão e raiva definitivamente não combinam. 

Admiro os japoneses por diversas características e conquistas. Uma nação admirável. Ao longo dos anos 80 e 90, tive muitos contatos com corporações japonesas, época que iniciávamos os Processos de Qualidade Total no Brasil (TQC, Total Quality Control, segundo a JUSE, Union of Japanese Scientists and Engineers). 

Quando conversamos com um executivo japonês, temos a sensação de que eles são lentos para responder, a interlocução não flui. É sempre truncada por um silêncio incômodo para nós, latinos, sempre com a resposta na ponta da língua e as emoções à flor da pele. Ao perguntarmos alguma coisa, ele escuta, balança a cabeça lenta e afirmativamente, processa e responde um a dois segundos depois. Não esboça qualquer emoção e, não raro, parece (só parece) concordar. Jamais tive uma reunião tensa para tratar de negócios com os japoneses. A paciência é um traço cultural que deveríamos assimilar em nossa rotina.  

Já vivenciei muitos momentos em que, contrariado, minha primeira tentação era a de revidar. Não funciona. Quanto mais cedo nos condicionarmos a incorporar uma certa serenidade diante das dificuldades e um breve delay antes de falarmos, melhor será a qualidade de nossas decisões. 

Para quem, como eu, sempre foi um prestador de serviços (e jamais deixarei de ser) e que trabalha de forma contínua e intensa com pessoas, é muito comum a contrariedade. Se eu fosse decidir de imediato, sempre contrariado, a qualidade de minhas decisões seria muito baixa.  

Quando perdemos um grande negócio, quando um colega é promovido em nosso lugar, quando os resultados não aparecem depois de tantos planos de mudança ou mesmo quando somos preteridos para um comitê importante, são tantas as situações que podem nos estressar… Lembro-me de tantas atitudes que tomei no início da carreira movido pela raiva. Ainda bem que a ignorância é aceitável na juventude, só na juventude, e meus líderes souberam me compreender e me orientar. Mas nem sempre é assim. 

Há também a situação comuníssima que a de quando levamos para o trabalho situações pessoais mal resolvidas. Ás vezes questões importante, às vezes, nem tanto. O homem muitas vezes se aborrece por pequenas coisas e, aborrecidos, faz grandes bobagens… 

Para todas essas situações, recomendo um forte treinamento (meditação ajuda) para incorporar serenidade ao nosso jeito de ser e, em especial, de decidir. 

Definitivamente, fígado à parte e um delay para falar, nossas decisões se elevam a um novo patamar de qualidade. 

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