Era fevereiro de 1966 e choveu 250 mm por seis dias seguidos sobre a cidade do Rio de Janeiro, então Guanabara. Enchentes por todos os lados. Uma calamidade. Nos fundos da loja de ferragens, recém-aberta por meu pai, passava um córrego que rapidamente se transformou em um rio caudaloso que levou embora o que meu pai construíra com tanto esforço e tempo. Esse evento e suas consequências marcaram-me para sempre e lembro-me até hoje das imagens de nossa família tentando salvar qualquer coisa possível.
Existem eventos do mundo e da vida nos quais somos meros expectadores ou, como no caso da enchente de 1966, somos vítimas. Esses eventos não controlamos. Somos voz passiva das circunstâncias. Quero tratar aqui dos eventos que nós fazemos ou provocamos e que, igualmente, podem transformar as nossas vidas. Para isso, precisamos ter claro o que é um evento.
Um evento é algo que tem início e fim, pode ser uma tragédia ou uma festa. Não é algo duradouro como, por exemplo, um curso de medicina ou de engenharia, mas pode ser algo que tenha lhe acontecido e tenha lhe feito estudar um desses dois cursos.
Para termos uma vida transformadora, quanto mais eventos, melhor.
Devemos ser provocadores ou participantes de eventos. Um evento lhe retira da rotina repetitiva e lhe abre espaço para o novo. Um evento pode lhe surpreender, lhe espantar e lhe transportar para algo que você não imaginava.
Olho para trás e vejo quantos eventos mudaram a minha vida. Ter decidido sair da Alemanha e mudar para a Bahia marcou minha vida assim como ter feito, aos cinquenta, o caminho de Santiago de Compostela de forma solitária e como desafio espiritual. Seja pular de paraquedas, assistir um concerto de rock no Coachella Valley ou correr uma maratona de Berlin passando por baixo do Brandenburger Tor, tudo isso é transformador. Uma vida sem eventos é uma vida sem graça. Uma simples viagem pode mudar toda a sua vida.
Um evento pode ser um portão para o Novo. Assista e leia os clássicos, frequente teatros e, sobretudo, não despreze as óperas. São fontes inesgotáveis de ideias e nos provocam a crescer.
Eventos desejados ou não trazem sempre conhecimento e muitos insights se estivermos atentos. Um infarto pode ensinar mais do que toda uma vida. Melhor é sermos produtores de eventos, voz ativa e protagonista em nossa trajetória.
E nas empresas, quais são os eventos que lhe marcaram nos últimos tempos? Uma palestra, uma reunião, uma viagem, um desafio, um fracasso…? Se nada lhe ocorrer como resposta, talvez seja tempo de se perguntar se este trabalho está valendo a pena. Os eventos devem ser as marcas de nossa evolução.
A vida é mais rica quanto a mais eventos sobrevivermos e mais eventos produzirmos. Como diria o velho Neruda, “confesso que vivi”. Certamente, pelos eventos que lhe marcaram.