A ideia de rotina é associada ao que se repete e a de inovação ao que muda. Hoje, é essencial criar nas organizações uma cultura que harmonize padronização e inovação. Como é possível mudar repetindo?
A padronização permite aumentar a capabilidade dos processos e ganhar escala. Mas, é nesse mesmo processo que deveremos operar as inovações incrementais até que, necessariamente, a desejada inovação disruptiva redesenhe a própria rotina.
Cabe à liderança da organização criar e gerenciar a cultura do Novo, da contínua evolução, minerando a dialética entre o que existe e o que deveria existir.
Arrisco a dizer que as inovações incrementais vêm da atitude cultural que os supervisores operacionais conseguem transmitir lá na ponta, enquanto a inovação paradigmática elabora e reúne saberes de natureza distinta à da rotina.
Enquanto a rotina estimula a repetição e sua melhoria contínua e incremental, a inovação pode mesmo chegar a sugerir sua destruição. Às lideranças cabem o papel de criar a cultura do novo. Deve ter o cuidado, carinho e sabedoria para tornar a empresa uma Boa Escola de Mudança (BEM).
Uma escola é mais voltada para o desenvolvimento de cada indivíduo, enquanto a empresa não prospera sem o resultado coletivo. A educação do indivíduo vem antes do seu treinamento profissional e, de certa forma, deverão conviver para sempre em qualquer local da vida adulta. A semente da mudança deve ser plantada no indivíduo. A empresa cresce quando ela é uma boa escola e seus líderes priorizam esse viés.
Repetir inovando sugere a ideia de treinar educando.
A criatividade é do indivíduo e se materializa em grupo, dando à luz as inovações. A compreensão e o domínio da rotina devem ser continuamente desafiados pela ideia do novo. Aqueles que conhecem o caminho podem descobrir mais facilmente novas rotas do que os que jamais ou pouco caminharam. É educação para o novo e não se deixar envelhecer pela repetição do que já é dominado ou pela experiencia cristalizada.
Entregar inovando não é uma atitude necessária apenas para a empresa. É uma atitude de vida. Não conheço ninguém que queira um futuro apenas igual ao seu passado. Todos queremos sempre evoluir. Trazer à realidade pelo menos uma mínima visão de futuro.
“Temos que ter mais planos a realizar do que histórias pra contar”, ensinava-me o velho professor Cid Teixeira, sendo ele próprio, o maior contador de histórias que conheci. Ninguém se motiva com o passado, apenas aqueles que perderam a perspectiva de futuro. Quando jovens, todas as direções são possíveis, mais velhos, temos que continuar inovando dentro de horizontes estreitados.
A dialética que conjuga repetir e inovar é a mesma dialética que transforma a rotina em algo motivador. Queremos inovar sem deixar de entregar. De forma sustentável, não podemos entregar sem inovar.
Autor: Murilo Sampaio