Dos conflitos e das crises para a evolução

Aprendi mais com os que mais me conflitei. O bom conflito. Da mesma forma, as grandes crises são as nossas maiores mestras, sobretudo em nossa vida adulta. A boa crise.

Olhando para trás, vejo que deixei inúmeras cruzes que representam os relacionamentos encerrados ao longo da vida. Lembro-me como um pequeno cemitério de relações acabadas. Todo líder tem o seu. Cabe menos a apuração de responsabilidades, e mais a compreensão de quando a relação gera o atrito que só produz calor ao invés do movimento esperado.

O atrito é necessário para os corpos se movimentarem, mas quando ele não gera movimento, ele dá origem ao conflito infrutífero.

Uma das características mais importantes para a boa liderança é a percepção prematura de quando um atrito gerará apenas conflito e calor, nenhum movimento. Cabe evitá-lo.

Conflitos em série sem solução dão origem às crises endógenas (não devemos esquecer que a maioria das crises são causadas dentro das empresas por sucessivos e intermináveis conflitos). Por vezes, habituamo-nos aos conflitos infindáveis.

Por certo, há as crises clássicas causadas por mudanças conjunturais e tecnológicas que todas as empresas um dia ou outro acabam enfrentando. Não me refiro a essas crises. Boas crises. Refiro-me aqui às crises causadas por sucessões de conflitos mal gerenciados. Crises endógenas, repito, mais frequentes que as externas.

Dentre os casos comuns e crônicos, há o caso clássico de autofagia corporativa, quando o jogo político interno pelo poder na organização consome a maior parte da energia dos seus integrantes, deixando seus verdadeiros objetivos embaçados ou em segundo plano. Empresas desaparecem pelas crises que elas mesmas criaram, não vieram de fora na forma de desafio ou ameaças estratégicas. Vi boas empresas deixarem de existir por sucessões malfeitas ou alianças desnecessárias. Criaram o seu fim.

Uma liderança, seja da supervisão operacional direta até a presidência precisa se preocupar com a qualidade das relações que gera. Uma empresa de sucesso gera muito mais relações de qualidade, relações sem ruídos, fluidas que dão ao objetivo comum e a busca do melhor argumento o caminho natural para a solução dos problemas.

Conflito deve gerar argumento consistente e poderoso; jamais embate de egos a serem tratados. Egos instáveis podem se aborrecer por pequenas coisas e, aborrecidos, podem causar grandes problemas para a organização.

Quanto mais conteúdo tivermos, melhor. Mas, só isso não basta. A capacidade de fazer nosso conteúdo útil tem tudo a ver com a facilidade com que ele flui. Tive um Professor indiano que costumava definir a sabedoria pela fórmula:

Sabedoria (S) = Humildade (H)/ Vaidade (V) X Somatório de Talentos individuais (TI)

Ou seja, podemos ter um universo de conhecimentos e mesmo assim incapaz de nada produzir se nossas relações não tiverem um quociente alto entre humildade e vaidade.

Sempre procuro conhecer primeiro a pessoa (H/V) para, só depois, saber de seus conhecimentos e currículo.

Atrito deve gerar conflito saudável,  argumentos fortes e diferenciados. As pequenas e inúmeras relações vão criando o tecido cultural da organização e, quando bem lideradas, as relações gerarão apenas movimento e enfrentarão apenas as crises que a conjuntura coloca diante de nós.

 

 

 

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