Na comemoração de quarenta anos da formatura de minha turma, fui ao Rio de Janeiro celebrar com meus colegas. (De)formei-me em engenharia em 1978 e deixei minha cidade apenas com minha mala, mas sentindo-me a pessoa mais corajosa do mundo. A juventude deve ser valente e sair de casa, de sua cidade, de seu estado e mesmo de seu país nos torna ainda mais valente.
Saí do Rio de Janeiro e fui para Ribeirão Preto para participar de um projeto de transferência de tecnologia da Alemanha para o Brasil a fim de produzir localmente turbinas a vapor.
Turbinas a vapor significavam o que mais um jovem engenheiro mecânico curioso pode querer encontrar. São equipamentos que operam com altas rotações, temperaturas e pressões. Um desafio para os amantes da engenharia mecânica.
No meu caso, significavam mais ainda: eu deveria mudar-me para a Alemanha dentro do processo de transferência de tecnologia.
Sair do subúrbio do Rio de Janeiro, ter me mudado para São Paulo e, de lá, para Alemanha por um certo período foi a decisão mais acertada de minha vida profissional e também pessoal.
Ao mudarmos de cidade, devemos nos jogar de cabeça para aprender o máximo possível o que essa nova região (e cultura) podem nos oferecer e nos enriquecer. Nada de julgamentos e só olhar para frente. Cada local tem sua história, sua língua, seus sotaques e sua forma de ver o mundo. Com humildade e curiosidade, nosso mundo se colore e novas oportunidades surgem.
Foram sete anos de novidades. Como engenheiro de vendas, viajava todas as semanas para todas as partes do Brasil, consegui perceber meu país de uma forma que jamais imaginara. Aos poucos, passei a ter o que julgo o mais importante em um profissional que deseja ascender e se tornar um líder organizacional: ter capacidade de ter sua própria leitura das circunstâncias diante dos desafios que a vida nos coloca.
Aos vinte nove anos, mudava de trabalho para assumir minha primeira diretoria. Para tal, deveria mudar-me novamente de domicílio. Assim, me transferi (já com a família) para Salvador, Bahia.
Anos de Bahia ajudaram-me a potencializar minha curiosidade e a compreender a história do Brasil de forma mais ampla. Diferentemente de Gil, a Bahia me retirou a régua e o compasso e me permitiu ver a vida além do cumprimento estrito de procedimentos que a escola germânica me ensinara.
Continuei mudando a vida toda. O espírito da mudança é a atitude seminal da inovação. Saia de casa o mais cedo possível, quando tudo estiver estável demais é hora de mudar. Lembro-me do velho Augusto de Campos:
“Quis mudar tudo, mudei tudo. Agora, póstudo, extudo, mudo.”
Há quanto tempo, você não muda?