Sempre fui precoce. Ao entrar em uma reunião, invariavelmente, era o mais jovem. Em 1985, já diretor, todos os meus subordinados diretos tinham mais de 40 anos. Meus clientes também eram mais velhos. O mundo, parecia-me de pessoas mais velhas.
Hoje, ao entrar em uma reunião, invariavelmente, sou o mais velho. Não me sinto o mais velho, mas não há como não reconhecer a passagem do tempo. Sou o mais velho.
Posto isso, fica o desafio de como lidar de forma inteligente com a passagem do tempo, seus efeitos e suas possíveis vantagens.
O preconceito, a ignorância e as certezas são privilégios exclusivos da juventude. Mais velhos, menos discursos e mais escuta ativa. Já vivenciamos as certezas dos jovens, tão necessárias quanto quase sempre insustentáveis.
Manter-nos ativos, até jovens, sequiosos por mudanças, mas em ritmo diferente, numa tocada que respeita o tempo das coisas e não atropela a razão: esse é o desafio diário de quem vai vivendo seu tempo. A experiencia ajuda quando ela deixa de ser o motor da cena e passa a ser apenas um complemento. Um tempero no que produzimos.
Na juventude, achamos que inventamos, inovamos e temos ideias brilhantes, uma após a outra. Na maturidade, temos a calma para perceber que quase tudo que achamos inovador já foi pensado, testado e introduzido em outras culturas e tempos diversos.
Passamos a ter uma autocrítica necessária para evoluir quando contamos mais anos em nossa vida.
A dialética do novo e do velho precisa ser trabalhada em nós. Todos envelhecemos, mas não devemos nos tornar velhos. Precisamos manter o viço do que é novo em nossa rotina repetitiva. O novo deve vir da repetição criticada pela experiencia vivida. Isso é a chave para nos mantermos vivos, não apenas nas organizações, mas na vida e suas outras dimensões.
A experiência deve iluminar o que está por vir, cansada que está de tanta repetição. Dialeticamente, é da experiencia de quem repete que deve nascer o novo.
O novo vem da curiosidade. Não podemos perder a atitude curiosa com o passar do tempo. A experiencia deletéria se dá quando perdemos a curiosidade e a experiencia vivida vira um calibre passa não passa para lidar com a vida em cada tempo.
Fica velho quem usa esse calibre e que apenas quer ver o futuro repetindo o passado. A experiencia que dá à luz o novo é a que, temperada pela atitude curiosa, não cansa de destruir o passado em busca do que realmente é diferente.
Na melhor das hipóteses, todos envelheceremos, mas não precisaremos ficar velhos e repetidores. Temos que envelhecer inovando. “Ficamos velhos quando temos mais estórias pra contar do que planos a realizar”, ensinava meu saudoso Mestre Cid Teixeira, o mais famoso historiador da Bahia no século passado.
Hoje, depois de tantas estórias, tantas conquistas e, também, fracassos, do alto de quase cinquenta anos de experiencia, a única coisa que me mantem vivo é a vontade de fazer o novo acontecer. É fazer com que toda a experiencia sirva apenas de parteira para o novo. Para que o futuro imaginado possa acontecer.
A experiência tem que sempre iluminar o futuro.