Já perdi a conta das pessoas dizendo que se pudessem voltar no tempo, fariam tudo de novo da mesma forma. Quieto, no meu canto, fico pensando em tantas coisas que faria diferente. Muitas!
Não teria trabalhado em algumas empresas que trabalhei, teria virado empresário muito antes do que virei, teria feito várias vezes o Caminho de Santiago de Compostela e não uma única vez, não teria abandonado o violão como abandonei, teria adotado estratégias diferentes na condução de certas negociações, enfim, são tantas as coisas que faria diferente que me perco ao tentar listá-las.
Acho que tem dois tipos de arrependimento: o primeiro, por precipitação e o segundo, por falta de conhecimento mesmo.
E de que adianta ter a ideia de que faríamos certas coisas de forma diferente? No meu caso, para lidar com a precipitação, foi conseguir introduzir um delay entre ouvir e falar. Sempre tive a resposta, o comentário ou uma opinião na ponta da língua. Orgulhava-me de ser rápido, achava um sinal de inteligência. Com o tempo, aprendemos que só os jovens têm o privilégio da ignorância, mesmo assim não devem dele abusar.
O impulso cobra um preço alto. Quanto mais cedo na vida conseguirmos introduzir de dois a três segundos entre ouvir e falar, a chance de melhorar nossas decisões aumenta muito.
Depois que falamos é difícil voltar atrás. Por que falei o que falei? Falei sem pensar, quando avaliei, já tinha falado. Esses dois ou três segundos são impressionantemente importantes e podem mudar a direção de nossa vida.
Pior do que não usar os dois ou três segundos para falar é quando você reage imediatamente, bypassando a palavra e indo direto para a ação. Agindo assim, a chance de nos arrependermos aumenta bastante. Quantas ações impensadas tomei na minha vida? Perdi a conta…
Introduzir os dois ou três segundos na sua vida é uma tremenda evolução.
Encontramos a origem da palavra arrependimento tanto em hebraico, no grego e no latim. Tem tanto um importante viés religioso, associado à penitência, como algo que possa nos purificar, mas também um viés de mudança de pensamento (metaneo em grego) que deve facilitar nossa evolução.
A própria curva de aprendizagem que traçamos ao longo da vida sugere que somos diferentes a cada passo que evoluímos. É um tipo de orgulho tolo não reconhecer que poderíamos ter tomado caminhos diferentes aos que tomamos. Diria mesmo que esse orgulho gera teimosia e atrapalha nossa evolução. Alguns podem argumentar que decidiram do jeito que decidiram porque eram diferentes do que são hoje, mas isso em nada muda a qualidade da decisão tomada. Precisamos muitas vezes não só reconhecer, mas mesmo rirmos de nós mesmos por termos decidido do jeito que decidimos. Isso facilita nossa evolução.
Assim, acredito que introduzir em nossas relações dois a três segundos para falar e depois de ter falado ou feito alguma coisa, termos em nossa rotina diária dez minutos para avaliar o que fizemos no dia que acabou, com honestidade e humildade, tudo isso deverá diminuir os arrependimentos, mas se continuamos a evoluir, o arrependimento jamais deixará de acontecer.
Arrependa-se como forma natural de evolução e pare com esse orgulho bobo de gente teimosa que não se arrepende. Arrependa-se feliz e evolua.