“Filosofar consiste em inverter a direção habitual do pensamento”, provocava Henri Bergson, Nobel de literatura de 1927, pondo em dúvida a visão majoritária e predominante do intelecto sobre a intuição.
No início dos anos 90, contratei um filósofo e um teólogo para que vivessem como empregados na organização que então liderava. Como qualquer empregado, se utilizavam dos ônibus da empresa, usavam uniforme e procuravam interagir com nosso mundo empresarial, estranho para eles. Cada um deles trabalhou quatro meses, tempo suficiente para a produção de dois interessantes relatórios que, pela atualidade, guardo-os com carinho até hoje.
“Uma organização é uma estrutura com uma função”: esse mantra druckeriano, tendo a metáfora da máquina como inspiração dominante, foi com frequência exposto e discutido nos referidos relatórios. A verdade é que sempre estivemos em crises sucessivas que devem provocar mudanças o tempo todo. Vivemos também com a ilusão de que cada crise é única e diferente das demais.
Vejamos, por exemplo, o mundo organizacional pós-pandemia. Algumas empresas voltarão a trabalhar como se nada tivesse ocorrido, outras, em extremo oposto, criarão novas rotinas a partir da experiencia vivida nesses quase dois anos. Acho que devemos filosofar mais antes de voltarmos às antigas rotinas.
Com frequência, nossa cultura atribui à filosofia (e aos filósofos) um viés contemplativo excessivo que, de certa forma, se contrapõe ao ambiente empresarial, orientado ao fazer e ao resultado prático e objetivo.
À filosofia cabe a observação, a abstração, o sair de si para a compreensão inclusiva de realidades que se revelam. O entendimento justificado pode ser visto como ponto de chegada satisfatório. O mundo filosófico quase encerra-se quando a prática entra em cena e prioriza os resultados. Um desperdício!
A chamada filosofia prática vem crescendo e nos forçando a pensar a partir de olhares novos, diversos e livres.
A empresa que emergirá pós-pandemia deverá ter outras metáforas inspiradoras, além do domínio maquinal e repetitivo. Uma avalanche de novas empresas vem surgindo, sobretudo na área de serviços, e acredito que tal fato tem a ver com um olhar filosófico questionador crescente em nossas empresas.
Liderar é colar os lados bons de cada pessoa com um futuro inspirador de múltiplos propósitos. É algo bem diferente do que temos hoje em nossas empresas.
Ando curioso sobre os modelos empresariais que surgirão. E você, em sua empresa, acha que tudo voltará como era antes?