Conflito ou sinergia geracional?

Com 65 anos, nunca tive tantos planos a realizar. O fato é que vivemos mais que nossos antepassados. Mais ativos, acho que seria um desperdício nos aposentar antes da hora. Mas, preciso confessar que é um desafio lidar com a garotada de 25 anos. Há também os de 45 anos que ocupam as diretorias e também são de outra geração.

Torci na copa de 70, acompanhei as “Diretas já” no início dos anos 80, bem como a queda do muro de Berlim e fim de Gorbachev na chegada dos anos 90. Enquanto vivia tudo isso, meus colegas de trabalho ainda não haviam nascido ou eram apenas crianças em alfabetização.

Na memória, carregamos o tempo.

Quanto mais vivenciamos o tempo, mais nossa memória se expande e, também, se desorganiza como um grande e antigo almoxarifado. Sabemos que o que procuramos está lá, mas não sabemos exatamente onde. Um nome, uma data, um contrato ou um rosto. Estão todos lá em nossa memória.

Na essência, independentemente da idade, gostamos das mesmas coisas: bons relacionamentos, uma boa casa, amizades, um trabalho desafiador e de filhos também. Seja com 65, 45 ou 25, a essência de nossos desejos não muda tanto com a idade. O que muda são as fases em que os vivenciamos. Enquanto determinadas etapas fazem parte do passado, para os mais jovens, certos desafios e ilusões continuam.

As inovações tecnológicas esgarçam as diferenças geracionais. Uma criança hoje já se alfabetiza com o Iphone do lado ao invés de um caderno de caligrafia.  Se nós, os mais velhos, conseguirmos entender, aceitar e até curtir que as fases coexistem, convivem e podem cooperar, as relações intergeracionais serão, acredito, de alto potencial sinérgico.

Cabe aos mais velhos facilitar e sinergizar essa convivência. A pior coisa que tem é ver um contemporâneo meu falando: “Ah! No meu tempo, não fazíamos assim”. É a morte.

Quanto mais envelhecemos, menos devemos julgar. Não fazer julgamentos é a base da rica convivência intergeracional.

Em nossa empresa, temos diretores na faixa dos 45. Eles já não são mais jovens nem tampouco idosos. É uma fase rica, conjuga bem o binômio “experiência e juventude”. Ainda têm bastante energia e já possuem experiência. É, a meu ver, a fase mais produtiva de nossa vida profissional.

E os jovens, na faixa dos 25, como eles se veem? Acho que eles se veem da mesma forma que eu me via quando tinha 25. Os tempos eram outros, mas os personagens são os mesmos. Trazemos a insegurança dos que começam a trabalhar, sem sabermos exatamente se era isso que queríamos para nossa vida. Isso, acredito, não muda. Alguns trazem os privilégios da juventude e julgam tudo saber na sua jovem ignorância. Muita coisa é igual, apenas em palcos diferentes.

Atualmente, numa das empresas, conduzo sessões de Mentoring com quatro turmas de dez participantes. Todos entre 25 e 45 anos. Falamos sobre os mais diversos assuntos, todos propostos por eles próprios. O fato é que esses encontros traduzem o melhor dos desafios geracionais. Aprendemos uns com os outros. Alimento-me da curiosidade juvenil e ofereço a experiencias de quem já viveu mais.

O atrito geracional, se bem administrado, gera movimento e crescimento. Quando mal administrado, esse atrito produz apenas calor e perdas.

A convivência de pessoas de diferentes gerações pode ser mais rica do que aquela apenas com contemporâneos.

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