Somos complexos, plurais, únicos e misteriosos. Jamais, simples.
A palavra não nos alcança no todo. Ajuda, mas não esgota nem em parte. Somos um conjunto que busca entender as partes que nos compõem, mas os sentidos, sentimentos, emoções e o espírito, todos, habitam uma dimensão difícil de dividir. Somos todas as características contidas em nós, expostas em circunstâncias e no tempo.
Somos a multidão que nos habita. Somos mais complexos do que a empresa que habitamos. Ela tem uma estrutura feita pela racionalidade e funções bem definidas (mesmo que mudem com o tempo). Precisamos exercer um papel na organização e deixar para depois os mistérios que carregamos. Viramos assistente administrativo, soldador, gerente, presidente ou vigilante. Tenho um crachá ou um código de reconhecimento. A metáfora baconiana da vida, enquanto máquina que funciona, ainda é muito presente e poderosa.
Toda essa redução de meus mistérios, essas questões essenciais, carrego na minha multidão silenciosa. Elas estão na cena diária, no cotidiano das organizações, que ainda insistem em organogramas com função e nome.
Você pode ser líder responsável pela área corporativa, comercial ou operacional. Seus subordinados são igualmente definidos e nomeados como componentes de um subsistema. E assim, o mundo parece funcionar. Novas funções são criadas o tempo todo. Há ainda pouco espaço para meus mistérios dentro das empresas. Há medo ainda das organizações em mexer com essas questões.
A liberdade coletiva é ainda pouca para lidar com os mistérios que carrego como individuo no local em que passo a maior parte do tempo exercendo uma função. A tecnologia continua a diminuir espaços, conectando pessoas, oferecendo informações e mais provocativa. Canais de comunicação são abertos (e escancarados), acelerando as provocações dos paradigmas sobre os quais nossas empresas funcionam.
O que fazer com essas disrupções tecnológicas que, a cada dia, parecem revolucionar a cena diária das pessoas e das organizações? Nosso instrumental sócio-cultural tem se mostrado limitado para compreender e absorver o que as inovações têm provocado. As organizações continuam a operar no velho modelo funcionalista, e lendo apenas mudanças do mundo externo.
Somos o velho que se esgota e o novo que brota simultânea e incessantemente. Como lidar com isso sem uma atitude inclusiva e inspirada em novas metáforas? A gestão dialética nas empresas poderá conciliar paradoxos típicos de nosso tempo. Poderemos ser mais tecnológicos e ao mesmo tempo incluir mais humanismo às rotinas diárias. A tecnologia pode enriquecer o paradigma funcionalista que ainda predomina em nossas empresas. Ironicamente, a tecnologia pode nos tornar mais humanos em nosso espaço organizacional.
A inovação não deveria ser apenas tecnológica. A inovação pode alcançar uma modelagem, capaz de harmonizar o que somos (com toda nossa complexidade, deixada de fora das organizações) e o que também funciona do paradigma atual. Repetir inovando, me parece ser a prática a ser disseminada em nossas empresas, afinal devemos aprender a trocar o “ou” pelo “e” na maior parte dos desafios que enfrentamos.