É verdadeira a ideia de que a empresa é um prolongamento do jeito de ser do seu fundador, de sua personalidade e de seu modo de fazer as coisas. Sobretudo, de seus valores. Do seu entendimento do que é certo ou errado, do que é seguro ou arriscado do que é bom ou mau. A propriedade lhe confere esse poder.
Já a ideia inspiradora de uma empresa não vem necessariamente de seu fundador.
A palavra Metaphora (do grego Meta, além, e pherein, transferir) sugere a ideia de que certas palavras podem conferir novos significados ao que temos diante de nós; se digo que uma empresa é uma escola, começo a imaginá-la de forma diferente, transferi o significado de escola para o de empresa. É como se pudéssemos ampliar os significados daquilo que o senso comum nos permite visualizar.
Servimo-nos das metáforas para enriquecer nossa linguagem, inspirar caminhos e, até mesmo, provocar a ciência a conceber (quase intuir) novas abordagens de entendimento para o que ainda não conhecemos. Ampliam percepções, concebem modelos e modificam o real a partir do simbólico.
Todos nós precisamos de metáforas para inspirar e guiar nossas mudanças. Seja pessoal ou profissionalmente.
O modelo de negócio decorre das metáforas originais para conceber uma empresa enquanto os valores servem para balizar seu modus operandi.
Toda empresa deseja crescer, você pode escolher se como um cágado ou uma lebre. Você escolhe a metáfora.
A ideia de valor, a partir de seu fundador, sugere algo mais imóvel, intrínseco e cultural.
Com o passar do tempo, a empresa cresce, o fundador nem sempre mais a lidera, mas o desafio original permanece: quais são os valores e as metáforas que inspirarão a organização?
Crescer por crescer sem um propósito inspirador é perigoso. Crescer fazendo sempre mais do mesmo é ainda mais perigoso.
O modelo do negócio deve ser permanentemente colocado à prova por essas duas questões permanentes e fundamentais: os valores da empresa mudaram? As metáforas continuam a sustentar um propósito inspirador?
É interessante analisar a presente “Onda ESG” diante dessas perguntas essenciais. As três letras desse acrônimo tem a ver apenas com os valores da empresa: você é sustentável ambiental, social e transparentemente? É como se você recebesse um certificado de conformidade com os valores dos tempos atuais. Mas, é importante deixar claro que a “Onda ESG”, mesmo sendo um impositivo para lidar com o mercado de capitais, não traz nenhuma vantagem competitiva de longo alcance. Nada tem a ver com inovação ou com as possíveis metáforas inspiradoras.
Uma liderança dialética que conjugue experiência e juventude, padronização e inovação, agressividade e respeito e tradição e ruptura não poderá achar que a “Onda ESG” lhe trará um gradiente estratégico relevante. Atender a “Onda ESG” é importante para a empresa enquanto sinal de porto seguro para investidores, mas está longe de torná-la, repito, mais competitiva. A competitividade depende essencialmente das metáforas inspiradoras.
Quando uma empresa não é mais capaz de gerar e construir metáforas inspiradoras, ela perde o viço da coisa nova, elemento insubstituível para a motivação da equipe.
Assim, para quem é líder (fundador ou não), não pare nunca de se inquirir sobre os valores, as metáforas e o modelo que a empresa está adotando para continuar a crescer de forma sustentável e diferenciada.