(Primeiro artigo da série “os meus clássicos”)

Um clássico, qualquer que seja a manifestação artística, sempre trata daquilo que nos habita e nos acompanha desde o nascimento até a morte. Não envelhece com o passar do tempo, ao contrário, se torna algo sempre melhor e maior se evoluirmos como pessoa.

Um clássico não trata de circunstâncias ou de questões menores, trata da essência, daquilo que não deixa de importar, do sentido da vida, da passagem do tempo e de nossos sentimentos mais profundos como o amor, o medo e a necessidade de liberdade.

Nossa relação com a morte, origem das religiões e as complexas relações que as famílias podem gerar, todos esses temas são explorados nos clássicos que nossos brilhantes literatos produziram e continuam a produzir. É claro que falo aqui dos livros e não de outras manifestações artísticas.

Os motivos que nos levam às guerras e de que formas conseguimos superá-las. Da natureza humana trata uma grande quantidade de clássicos. O autoconhecimento e a dinâmica das relações também ocupam grande espaço entre eles.

É muito difícil fazer uma lista dos clássicos mais importantes, mas podemos sim, mencionar alguns poucos que nos marcaram a vida. Diante do grande universo dos clássicos, vou escrever alguns artigos sobre aqueles que marcaram-me a vida.

Ilíada e Odisseia de Homero inauguram os livros clássicos. Com datas imprecisas e autores duvidosos, A Ilíada e a Odisseia têm quase três mil anos e nesses dois livros encontramos tudo que ainda está presente, hoje, em nossas vidas. A guerra por Troia, os dramas da luta pelo poder, acordos e traições compõem a Ilíada. O segundo livro, o retorno de Odisseu, após vinte anos de ausência familiar, nos oferece um convite ao autoconhecimento e a luta para evoluir. Às vezes, difíceis de ler nos textos originais, há muitos trabalhos auxiliares que tornam esses dois textos mais acessíveis e uteis para nossas reflexões. São livros, bons companheiros que aconselho manter por perto.

Na literatura brasileira, não considerando as obras fictícias de Machado de Assis, de Guimarães Rosa ou de Mário de Andrade, indicaria “Raízes do Brasil” de Sergio Buarque de Holanda como uma plataforma importante para compreensão da alma brasileira. Por que somos do jeito que somos? Longe de esgotar o assunto, é um bom início.

Não poderia deixar de mencionar “Dom Quixote” de Cervantes. Desde criança, coleciono esculturas do cavaleiro andante. Para mim, o mais importante nesse personagem é a força da fantasia. Precisamos ter fantasias em nossas vidas. Por vezes, parecem inexequíveis ou inalcançáveis, não importa. As fantasias precisam existir em nós e Don Quixote nos estimula a mantê-las vivas nos momentos que mais precisamos delas.

Na dimensão empresarial, seria injusto não mencionar um dos livros de Drucker, mas nenhum outro livro impactou tanto minha vida empresarial quanto a “Terceira Onda” de Alvin Toffler, que pude ler no início dos anos oitenta. Um exercício futurista que previa tudo que começaríamos a viver vinte anos depois. A diversidade e a “infosfera” ligadas em uma grande guinada social tão presente nos dias de hoje.

Uma outra obra necessária é a “Invenção do humano” do crítico literário Harold Bloom, onde ele analisa, peça por peça, a obra de Shakespeare e a quase infinita contribuição que o Bardo do Avon nos trouxe com sua extensa obra sobre a natureza do humano.

Por certo, haverá muito a citar das diversas escolas literárias. Não me preocuparei em buscar um encadeamento de assuntos. Vou mencioná-los na ordem que surgirem enquanto escrevo. Vou explorar esse tema com artigos periódicos, ressaltando aqueles que me ajudaram a enxergar o mundo e a vida de forma mais profunda e colorida.