São diversos os sintomas de arrogância. O que considero mais comum, e nem sempre reconhecido como tal, é a incapacidade disfarçada de ouvir as pessoas, de prestar a atenção devida ao que está sendo dito. Trata-se de uma arrogância sutil, que desequilibra o diálogo, quando não o inviabiliza. Ao acordar, todo líder deveria dedicar alguns minutos para repetir um mantra indispensável ao exercício da liderança: “ouvir cada palavra com atenção, ouvir cada palavra com atenção, ouvir cada palavra com atenção…”
A arrogância também pode estar ligada à ideia de poder, conhecimento ou riqueza, o que, de certa forma, encontra raízes epistêmicas em uma ilusória ética de excesso. Nessa perspectiva, determinados indivíduos, ao experimentarem tais qualidades e situações, não conseguem transcendê-las, tornando-se pessoas mais simples e sábias. Pelo contrário, é raro reverter o traço de arrogância naqueles que, consciente ou inconscientemente, foram abraçados pela ilusão da soberba e do descomedimento.
Ao longo da vida, conheci muitas pessoas com grau elevado de erudição em diversos temas. Algumas pessoas chegam a aceitar que esses polímatas, por deterem conhecimentos extraordinários, podem se comportar de forma diferenciada em relação às pessoas ditas comuns. Isso, no entanto, é um equívoco. A sabedoria não deve ser medida pela profundidade do conteúdo que cada um pode alcançar, mas pela capacidade de multiplicar esse conhecimento.
Um escritor ou músico virtuoso em seu ofício pode ser suportado, admirado e até amado, mesmo quando arrogante, devido ao peso específico de seu talento. Contudo, em uma organização moderna, não há espaço para a arrogância, independentemente do talento de qualquer líder. Isso se aplica também aos donos de empresas que, muitas vezes, mordidos pela “mosca azul”, não acordam a tempo de fazer uma necessária autocrítica e assumir um reposicionamento.
Manter a autocrítica diária é um exercício contínuo, como uma meditação, que não precisa de mais de cinco minutos. Reflexões simples, como: “Pisei na bola ontem, falei mais do que devia no momento errado e para o público inadequado”; ou “Preciso procurar Fulano, pois não dei a atenção devida à ideia que ele trouxe”, podem fazer toda a diferença. Quantos são os pequenos erros e as desatenções que cometemos e deixamos passar, até que, quando menos esperamos, nos surpreendemos com a imagem negativa que nossos liderados têm de nós…
Se ser arrogante só apresenta desvantagens, é de se perguntar: por que ainda existem tantos líderes arrogantes? Por certo, um psicanalista teria uma argumentação mais consistente do que minhas simples observações ao longo de décadas de trabalho. Mesmo assim, listo aqui três traços que percebi se repetirem ao longo da minha vida profissional:
1. É um sinal de fraqueza O líder arrogante possui alguma fragilidade e tenta escondê-la com sua atitude arrogante. Pode ser uma formação intelectual limitada, a sensação de estar em uma posição sem o devido merecimento ou a incompetência de motivar e guiar sua equipe. Diversos fatores podem evidenciar essa fragilidade, que muitas vezes resulta em um complexo de inferioridade.
2. Outro bem comum é o narcisismo.: A dificuldade de lidar com a diferença, com o que não é o eco de suas ideias ou o reflexo de sua imagem. Nesse caso, a arrogância surge como uma boia salva-vidas, tentando afastar ou amedrontar o que representa uma ameaça.
3. Finalmente, eu reuniria vários traços em um único grupo e chamaria de forma geral como falta de educação. Aqui se enquadram pessoas inteligentes, mas que não tiveram os limites da boa educação impostos. Pais negligentes, falta de amigos verdadeiros para oferecer bons feedbacks, sucesso precoce ou ausência de uma liderança marcante que pudesse orientá-los são fatores que contribuem para esse traço. Este é um dos casos mais difíceis de tratar, mas a vida, de algum modo, costuma encontrar formas — nem sempre indolores — de corrigi-lo.