Mirar o horizonte é um jeito de olhar o tempo, sua linha parece fundir passado e futuro.

Noutro dia, peguei uma folha em branco, olhando pro horizonte, e comecei a vasculhar o almoxarifado desarrumado da memória em busca das pessoas que me ajudaram a moldar meu jeito profissional de ser.

Interessante, me vieram à mente apenas nomes do meu primeiro trabalho. Parece que depois de um certo tempo, depois que criamos a nossa própria personalidade profissional, as pessoas podem, no máximo, nos influenciar. Não marcam mais.

No início de carreira, muitas pessoas nos perturbam. A perturbação é uma evidência de que algo em nós procura lidar com o novo, com uma nova forma de fazer as coisas. O jeito de escrever, de falar, de tomar decisões, de se relacionar. Sem que percebamos, começamos a imitá-las.

Comigo, não foi diferente. Muito jovem, ávido por aprender sobre a vida empresarial, algumas pessoas foram essenciais para a minha evolução.

Jovens, somos uma esponja e absorvemos quase tudo que é novo (uma pena, deveríamos manter essa característica, mas ela se perde com a idade). Nossas Escolas nos diplomam, mas começamos a trabalhar quase sem saber o que é gestão, como lidar com gente, estratégia e rotina.

Vou omitir os nomes e apenas diferenciá-los pelas suas personalidades e habilidades que tanto me marcaram.

No meu primeiro trabalho como engenheiro, participava de um importante processo de transferência de tecnologia da Alemanha para o interior de São Paulo e, assim, os europeus foram os mais marcantes.

O primeiro era um expatriado português, gago, ele ensinou-me os primórdios da dialética relacional quando, com paciência, dizia: “Murilo, não existe preto ou branco. Tudo é cinza. Os extremos atrapalham nossa evolução”. Não sabia direito o que era dialética, mas sentia que ele estava certo. A importância de costurar soluções e deixar de ser cem por cento cartesiano ou prescritivo.

Tive dois alemães peculiares. Um de difícil trato, enfatizou em minha formação a importância de fazer certo as contas certas ao invés de fazer certo as contas erradas. O outro, muito experiente no comércio internacional, me ensinou que nada há de mais importante em uma empresa do que realizar uma venda.

Com o CEO dessa empresa, aprendi muito. Era um italiano briguento e encrenqueiro. Apenas mais tarde, compreendi, ser necessário para toda empresa, alguém como ele, capaz de tirar as pessoas da zona de conforto. Era sua especialidade.

Acho que nessa época, de 1979 a 1985, tive as lições que se transformaram em pilares de vida como executivo. Foi um período tão rico que, rapidamente, apareceram muitas oportunidades de me transferir para outras empresas.

No período logo seguinte, não consigo indicar uma pessoa que tenha me marcado. O que houve nesse período foi um intenso aprendizado pela importância da organização estratégica e a lógica corporativa. Fazíamos parte de um dos maiores conglomerados nacionais e posso destacar a importância da boa governança e da absoluta transparência de nossos atos.

Também nesse período, ficou marcado que uma empresa se quiser crescer de forma sustentável terá que ser também uma boa escola. Um lugar de evolução para todos.

Nos últimos vinte anos, até ter minhas próprias empresas, lidando diretamente com empresários, aprendi mais o que não fazer do que algo a ser admirado ou copiado. A ênfase exagerada do curto prazo em detrimento da construção de um futuro sustentável, o frequente divórcio entre discurso e prática e uma devoção exacerbada à riqueza pessoal fazem parte desse portfólioPessoas que marcam a nossa vida profissional. Mas, importante: aprendemos também muito com as experiências negativas.

Resumindo, no início, as pessoas nos marcam mais do que as organizações. Quando amadurecemos, passamos a ser mais impressionados pela cultura organizacional do que pelas pessoas.

Faça um exercício: quais a pessoas que lhe marcaram e, se ainda for possível, aproveite ao máximo essa convivência.