Nem sempre é fácil saber se a empresa onde trabalhamos vai realmente bem ou não. A transparência muito propalada nas apresentações, às vezes, não revela o essencial dos resultados e as reais perspectivas para o futuro.
Em empresas listadas em bolsa, a situação tende a ser melhor, mas ainda estamos longe de saber o que de fato está acontecendo. Casos como o da Americanas não são raros em nossa história.
Em empresas de capital fechado, a situação ainda é mais nebulosa. Já liderei empresas de dono. É um mundo à parte, onde as emoções tendem a estar mais presentes do que a racionalidade e os números precisam de interpretação mais profunda e severa. A vida do empreendedor se reflete na trajetória da empresa e vice-versa. Hoje, nas minhas empresas tento não repetir o padrão cultural dos empresários que conheci. Nelas, a análise econômica e financeira, feita com frieza, é substituída pelo viés artificial de ver melhorias onde não existem, sendo comum as empresas apresentarem crescimento de receita e deterioração dos resultados. Crescem, mas pioram. É muito comum mesmo.
Seja a empresa aberta ou fechada, sendo você um líder, convém certificar-se de alguns pontos. Listo a seguir alguns deles:
– Conhecer a estrutura de capital da empresa e se ela vem melhorando com o passar do tempo. Como evoluem caixa e endividamento em face da qualidade dos resultados obtidos. Não é raro que lideranças intermediárias da empresa desconheçam sua saúde financeira. Buscar informação quando ela não chega deve ser um hábito. Lembre-se sempre que só os mal-informados se surpreendem.
– Acompanhar as novas vendas, a evolução do portfolio dos clientes e a tendência da receita. Tão importante quanto crescer é crescer com qualidade. Evitar a concentração da receita em determinados setores da economia e, mais ainda, a concentração da receita em poucos clientes. Receitas decrescentes ou mesmo estagnadas são sempre um importante sinal de alerta.
– Acompanhamento do “estado da arte tecnológico” do seu setor. Sua empresa está na vanguarda da inovação ou é possível reconhecer a defasagem entre a forma que sua empresa atua e as líderes em seu segmento de mercado?
– Importante também observar a movimentação no turnover em postos-chave. Quando a empresa não vai bem, via de regra, aumentam os atritos (lembro-me de meu pai falando que ficamos menos inteligentes quando ficamos sem dinheiro) e determinadas lideranças começam a abandonar o barco.
– Uma questão subjetiva, mas igualmente importante, é quando deixamos de ter orgulho de trabalhar na empresa em que trabalhamos. Seja pelo caminho que ela começou a tomar, seja pelo clima organizacional que sempre piora, começamos a nos desmotivar.
– E, por último, mas não menos importante, não vemos qualquer perspectiva de um futuro promissor.
Feita a avaliação desses aspectos e, de fato, constatada a trajetória negativa da empresa, o que devemos fazer? A primeira e natural reação é pensar em ir para a concorrência. Pense bem mesmo, pode não ser a melhor opção, pois é quase sempre um único tiro. Se não der certo, você vai mudar de novo? Antes de ir nessa direção, é oportuno pensar em outras duas direções: fazer seu próprio negócio se você acumulou conhecimento em um nicho específico de atuação ou talvez seja a hora de mudar para setores adjacentes. Não acredito que grandes guinadas tenham alta probabilidade de dar certo. Seu principal ativo é o conhecimento adquirido em seu setor.
De qualquer forma, esteja sempre preparado! Informe-se e se antecipe aos acontecimentos.