De há muito, só entrevisto pessoas para cargos de liderança e jamais começo a entrevistar um candidato pelo currículo enviado. Antes, interessa-me a pessoa e, só depois, o profissional.
Questões gerais e filosóficas são um bom começo. Qual é sua visão de mundo, do tempo que vivemos, da vida que levamos ou de nossa história? Conhecimentos gerais contam pontos. Se possível, falar dos livros que marcaram sua vida e sobre os que você está lendo, de seu interesse sobre educação, arte e mesmo de seus hobbies. São questões essenciais para que possamos avaliar sua aderência com a cultura da nova empresa em que você pretende trabalhar. Quais são seus valores verdadeiros? Tem que haver empatia de valores. Muitas vezes, só com esse início, conseguimos perceber se vale a pena continuar ou não com a entrevista.
Em seguida, seus traços de personalidade (não aguento mais as pessoas se declararem perfeccionistas e, por isso, ansiosas), seu equilíbrio emocional diante de crises, situações-limite que vivenciou, que decisões difíceis já tomou, seu grau de empatia relacional, se é ambicioso ou não, seus planos, sua família…São tantos os temas a serem abordados que não caberiam em uma só entrevista, mas mesmo que parcialmente, já conseguimos perceber aspectos essenciais do candidato.
Ainda antes de entrar no histórico profissional, tento perceber se o candidato tem traços de proatividade, se tem uma fala articulada, desenvolvendo seu raciocínio com fluência e em bom português.
Apenas após essa interação com a pessoa, começo a falar sobre seu currículo profissional. Observo a qualidade das escolas que frequentou e quando foi a última vez que ele esteve na condição de aluno. Boas escolas são sempre um elemento de avaliação. Não tenho especial atenção com aqueles que trabalham na concorrência, menos ainda, é claro, se já estão na terceira ou quarta empresa no mesmo segmento econômico. Avalio o tempo médio de permanência em cada emprego. Não existe um tempo padrão para a permanência em cada emprego, menos ainda com a volatilidade dos tempos de hoje, mas é possível extrair informações importantes analisando esses dados.
Outro aspecto a ser avaliado é se o cargo pretendido mostra ambição, se está disposto a enfrentar maiores desafios ou se é apenas uma confortável troca de emprego. Lembro sempre que para “subirmos na vida”, precisamos abraçar desafios maiores para os quais ainda não estamos totalmente preparados. Aprecio uma dose generosa de ambição.
Neste momento, preciso fazer uma observação quanto às entrevistas com pessoas desempregadas. Reconheço que há, sim, uma desvantagem importante para os que estão nessa situação e procuram novo emprego. Se você quer sair do atual emprego, recomendo que você procure novas oportunidades ainda empregado. É importante não saltar no escuro, situação delicada quando você está desempregado. É como se você perdesse tração para voos maiores e passasse a aceitar desafios menores, aquém da sua capacidade. É claro que há pessoas de muito valor que em certas circunstâncias ficam desempregadas, mas isso não é comum. Digo sempre que só os mal-informados se surpreendem. Um líder ligado antevê quando algo não vai bem e se reposiciona antes de ser demitido.
Assim, uma pessoa aderente aos valores da empresa, com capacidade de gerar empatia em suas relações e com uma trajetória profissional ascendente, se credencia para permitir ao entrevistador imaginar se ela se encaixará na estratégia da empresa e, mais ainda, agregará valor em seu novo local de trabalho.