Do latim Rebellare: Re, contra; Bellus, guerra. Fazer guerra contra alguém ou contra algo.
São várias as abordagens para tentar compreender os motivos da importância da rebeldia. A ideia de que tirano e rebelde são faces da mesma moeda me parece um pouco ultrapassada, embora ainda bastante comum em certas famílias.
Já na fase adulta, a melhor (e necessária) rebeldia é aquela que conseguimos desenvolver dentro de nós. Uma guerra evolutiva que precisamos travar continuamente contra nossas próprias limitações. É sobre essa abordagem que dedicarei este artigo.
Desejosos eternos de novos sonhos, precisamos manter uma certa rebeldia para realizá-los. Devemos sempre ter mais sonhos do que capacidade imediata para concretizá-los.
Rebeldia saudável é a guerra permanente contra a mesmice. Não viemos ao mundo para repetir tarefas, mas para criá-las e destruí-las continuamente. Máquinas repetem; humanos criam máquinas.
Como exemplo, nos processos de qualidade comuns entre as décadas de 1980 e 2010, foi a falta de rebeldia contra o “tal do PDCA” que transformou empresas em organizações eficientes na repetição, mas muito pobres em inovações relevantes. Um time é feito de jogadores diferentes — se possível, imprevisíveis, rebeldes de verdade.
Ser rebelde é declarar guerra permanente ao status quo. Posso (e devo) meditar diariamente, aumentar o ecumenismo entre a capacidade de observar, silenciar e agir com toda a calma do mundo, e ainda assim ser um rebelde stricto sensu. Um rebelde deve ser compreendido como um transformador de realidades, seja no campo profissional ou no pessoal. É aquele que não aceita passivamente as coisas como são na visão conformista de viver.
Como ser rebelde sem ser um elemento desestabilizador?
Resposta simples: sendo um rebelde verdadeiro e inteligente. Nada a ver com anarquia, bagunça ou desordem. Um rebelde verdadeiro tem um compromisso inabalável com a mudança para melhor. Dialético, ele transita entre manter e mudar, desde que haja sempre uma melhoria.
Pessoalmente, mudei de trabalho quatro vezes antes de ter minhas próprias empresas e, igualmente, me separei quatro vezes. Para quem começou a trabalhar e se casou há quase cinquenta anos, convenhamos, não é um perfil instável. É apenas o firme propósito de não abandonar o desejo de permanente melhoria e de não aceitar a acomodação.
Rebeldia inteligente poderia ser a expressão antônima de acomodação ou mesmo de covardia. Um rebelde, ao contrário do acomodado, não reclama! Ele canaliza toda sua energia para a mudança, para a guerra contra um status quo insuficiente. Um rebelde, ao contrário do covarde, não se perde em disse-me-disse ou confabulações deletérias; ele tem compromisso com a transformação da realidade a partir do enfrentamento.
Ao longo da vida, encontrei rebeldes verdadeiros que buscaram seus sonhos de forma obstinada, inteligente e corajosa. No entanto, também conheci, às pencas, os chamados “rebeldes sem causa”, mais preocupados com a aparência do que com o conteúdo, com a versão do que com o fato.
Há tempos, ao iniciar um processo seletivo, procuro apenas rebeldes verdadeiros. Pessoas com visão de mundo, mas também sensibilidade para o bairro onde vivem. Pessoas que entendem que tudo é passageiro e, por isso, é preciso melhorar tudo rapidamente. Pessoas que veem na calma a potencialização da coragem e da força para transformar.
Esses rebeldes são raros e valiosos.