À liderança cabe trazer o novo, sobretudo em nossa cultura pouco inovadora

       A cultura flui da sociedade para a empresa. Em casos específicos, podemos observar o contrário, embora sejam raros. A cultura de uma nação contribui, sem determinar, para a cultura das organizações. Há, assim, um espaço importante a ser gerenciado.

       A relação entre o ambiente, do mais coletivo ao mais familiar, e a prática do indivíduo é matéria de estudo contínuo nas abordagens institucionalistas. Ao tomarmos determinada ação, somos nós ou o outro que está agindo? Nossa formação (ou deformação) é estruturada pela vigência da ordem predominante e temperada pela condução de quem nos lidera. Daí a importância de refletirmos sobre como o processo e o estilo podem amalgamar condutas nas mais diferentes organizações.

       O poder público, em suas múltiplas esferas, exerce sobre nós, além de seus efeitos práticos e tangíveis, uma pressão institucional capaz de influenciar a formação de espectros arquetípicos que ilustram, ou mesmo ressaltam, determinados traços de suas lideranças. Seja pela ampla exposição midiática, seja pela relevância de suas ações, o líder em cargo público acaba contribuindo sobremaneira para a reverberação de determinados padrões.

       Quanto menor é a organização, mais relevante se torna o exercício do poder das lideranças na formação de sua cultura. Em organizações maiores, a liderança é uma variável muito importante, mas não determinante. Há uma inércia cultural que pode ir além de suas lideranças temporárias.

       Na história de nosso país, é possível, sob o prisma institucional, avaliar os efeitos que estilos de liderança deixaram ou poderão deixar em nossas organizações, sejam elas grandes empresas ou mesmo um pequeno comércio de bairro. A circunstância do todo interfere, por certo, em cada uma de suas partes.

       Como exemplo, as decisões da Suprema Corte de Justiça, ao apontarem que algo deve ser mudado e que as consequências de nossos atos, cedo ou tarde, serão avaliadas e julgadas, constituem um movimento com potencial efeito institucional. Na vida prática das pessoas comuns, um sinal de mudança pode ser captado com possíveis efeitos culturais ao longo do tempo.

       As chamadas ciências sociais guardam importantes imprecisões. Há estudos e hipóteses que se comprovam, produzindo evidências, e há também aquilo que não traz resultados e, por isso, não se sustenta. Dessa afirmação genérica, é essencial focar no papel da liderança e em seu potencial institucional. À liderança de uma organização cabe o permanente desafio de trazer o novo, mesmo que nossa cultura não seja naturalmente inovadora.

       Nas ciências sociais, em especial na administração das organizações, está provado que o exercício autoritário do poder pode, circunstancialmente, trazer resultados melhores, mas, a longo prazo, esses resultados não se sustentam. Os resultados sustentáveis são obtidos através da criação de uma cultura alinhada à trajetória cultural das sociedades que servem. À liderança maior cabe fazer essa leitura e conectar sua organização com o todo. Quando uma prática autoritária persiste, as relações entre líderes se infantilizam e os talentos abandonam as organizações em busca de realização.

      Assim, em um país com pouca vocação inovadora, onde nossa cultura prioriza mais o desejo de copiar do que o de correr riscos, a liderança das organizações precisa ir além do institucional e de sua própria cultura, demandando fôlego, coragem e resiliência para inovar, desde questões simples e rotineiras até saltos maiores, quando o negócio assim o exige.

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