Para os economistas tradicionais, Inovação ou é tecnológica ou não é Inovação. A abordagem clássica vai mais além ainda. A inovação deve ser tecnológica e disruptiva, ou seja, destrói o paradigma existente, como preconizava Schumpeter, para criar uma nova ordem. A chamada “destruição criativa”.
Com o passar do tempo, a Inovação incremental, aperfeiçoando o que já existe, acabou permitindo um alargamento semântico para o conceito de Inovação. Assim, Inovação deixou de ser sinônimo de invenção, transformada em protótipo e/ou patente, para ser a implantação do Novo, do Diferente, mesmo que não seja uma invenção.
Na Administração das empresas, o conceito de Inovação ampliou-se para alcançar a Inovação Organizacional, além daquela apenas tecnológica. Particularmente, gosto de duas definições empresariais para Inovação: (a) É a ideia que traz resultados objetivos e diferenciados. (b) É a forma que permite desconectar o preço do custo.
Como essas definições de Inovação acabam sendo verificadas no âmbito da manutenção Industrial?
Para construirmos boas respostas para essa questão, precisaremos dividi-las em dois grupos:
Sob a ótica do contratante
Via de regra, a manutenção industrial passa por um desafio marcado pela ambiguidade intraorganizacional. Ora, é posicionada como algo essencial, ora como algo menor, tratada apenas como um custo. Na prática, o que verificamos são modelos intermediários (equipe própria para certas atividades e contratação para aquelas mais próximas do campo operacional). Mas, em qualquer dos modelos, o viés do custo reduzido é o que prepondera. Quase nunca é considerado como diferencial estratégico e, raramente, endereço de investimento relevante.
A área de manutenção incomoda o orçamento anual, mas quase não consta da pauta dos comitês estratégicos.
A contratação, pela sua natureza sistêmica, é complexa e definida por diversas perspectivas, menos a da inovação. O contrato é um produto final realizado por diversas áreas da corporação: o cliente operacional, as áreas de suprimento e a aprovação jurídica (raramente, teremos inovações catalisadas por essa área. É quase sempre uma repetição conservadora do mesmo).
Assim, acredito que a inovação com real potencial na manutenção industrial só acontecerá quando virar pauta estratégica do contratante. Até lá, esforços localizados não lograrão mudanças relevantes.
Sob a ótica do contratado
O contratado, normalmente, empresas menores do que o contratante, possuem uma cultura corporativa incipiente ou inexistente (“empresa de dono” que se desenvolveu sem qualquer traço de postura ESG). Existem exceções.
Ao ser convidado a participar de uma concorrência, por mais que o contratado se esforce e priorize a contenda, determinadas características funcionam como “barreiras à inovação”. Há evidente assimetria de informações técnicas e gerenciais entre contratante e contratado, muito pouco tempo para a concepção de um projeto inovador pelo contratado, a necessidade de nivelamento da proposta acaba, ao final, oferecendo uma “planilha mais do mesmo” e, além de tudo, um contrato pré-definido que acaba por eliminar de vez qualquer novidade. Há exceções também.
De qualquer forma, haverá avanço e, mais importante, possibilidade de interlocução se empresas qualificadas puderem desenvolver, junto com o cliente-contratante, plataformas que experimentem novas rotinas com a operação dos ativos, almoxarifado, na logística interna, com a engenharia e o suprimento.
Nos últimos anos, eu posso afirmar que tem havido muito pouco progresso na área, talvez até retrocesso.
Continuando, na parte 2 desse tema, sugerirei algumas ideias que podem ser tentadas se quisermos realmente inovar nessa área.
Autor: Murilo Sampaio