Espécime e espécie em simbiose. Algo tão seminal quanto distante. Há a evolução, a história e as culturas criadas em nome da evolução.
Cultura e individuo moldando um ao outro. Somos nossa cultura, mas nela não nos identificamos por completo. Algo em nós escapa, não é? A organização e sua cultura são entidades abstratas poderosas, mas não tudo.
Uma organização é uma estrutura com uma função. Uma orquestra dispõe de músicos, instrumentos e uma partitura com a função de produzir sons agradáveis aos nossos ouvidos, enlevando-nos à dimensão da arte. Estrutura com uma função. Isso é uma organização.
Quando passamos a liderar uma organização, podemos ajustar ou mesmo recriar sua cultura, mas há limitações institucionais além dos nossos “muros”.
Uma empresa é uma estrutura de recursos com uma ou várias funções dependendo de quem a possui ou a lidera.
E o indivíduo, pode ser entendido também como uma organização? Poderíamos especular sobre todos os recursos que temos a nosso dispor e, igualmente, sobre todas as possíveis funções de nossa existência.
Harmonizar o “Eu e o coletivo”, seja na família ou na empresa acaba sendo um dos maiores desafios de nossa vida.
Como se o desafio de conhecer a si próprio já não bastasse, você acaba tendo que se aculturar nas diversas organizações que habita. Qual é o signo preponderante de cada uma dessas organizações?
A lógica quase sempre maquinal da empresa delimita o espaço do indivíduo quando não chega a oprimi-lo, deprimindo-o até. A pequena chance de harmonizar o indivíduo e a empresa gira em torno de propósitos comuns ou minimamente aderentes. A palavra-chave é EVOLUÇÃO. Enquanto houver evolução síncrona entre a organização e o indivíduo, a motivação se fará presente e os resultados tenderão a padrões superiores.
Há certos fatores a serem observados para que aumentem as chances dessa harmonia acontecer. Destaco três dos mais importantes:
O primeiro deles é a qualidade da liderança. Um líder que saiba conjugar o cuidado com as pessoas tanto quanto com os resultados
O segundo tem a ver com o que chamo “efeito escola”. Para crescer, uma empresa precisa ser uma boa escola oferecendo conhecimento e oportunidade.
O terceiro tem a ver com a empatia de valores da empresa e os valores do indivíduo.
Notem que esses três fatores são quase aculturais. Qualidade da liderança, “efeito escola” e valores de verdade.
Como falei acima, a organização e o indivíduo não estão segregados do mundo que continua o seu processo de contínua e eterna mudança. Em meio a diversas culturas, da sociedade à cultura da organização, como inserir-se e evoluir?
Na sociedade líquida de Bauman, onde a volatilidade e a fluidez parecem caracterizar as relações, até que ponto essa cultura social maior não se sobrepõe às microculturas organizacionais?
McEwan, em “Máquinas como eu”, levando a Inteligência Artificial a exercer papel no limite da consciência do androide Adão, até que ponto, toda essa fluidez e coisificação das relações nas macroculturas tecnológicas não se fazem presentes em nossa organização e na minha relação particular?
Por isso, insisto, é quase impossível não ser tragado pelas macrotendências culturais, mas enquanto pudermos manter pelo menos os três fatores descritos, haverá espaço para harmonizarmos indivíduo e organização.