Da família para todas as organizações que a vida nos oferece, qual a melhor forma de nunca para de se educar?
A família educa quando ainda não sabemos que estamos sendo educados. Os chamados “bons modos” quase sempre são plantados ainda na primeira infância. Tarefas domésticas, o que é certo e errado e o respeito ao outro, em especial, aos mais velhos. Com sorte, também educação para a vida, espiritual, para o tempo e o mundo. Tive um pai, torneiro mecânico, que lia Diderot e Voltaire e que jamais deixou de estudar. Esse aprendizado, de jamais parar de estudar, me acompanharia a vida toda.
Com a escola é que começa a educação formal para se viver em sociedade, indo além da família.
Na escola, temos os corpos docente e discente, conteúdo e prazo, elementos estruturantes da educação formal. Esses elementos estruturantes não são encontrados nas demais organizações que passaremos a frequentar fora da escola. Mas, de algum modo, podemos organizar tudo que nos chega para que o “espírito de escola” não se afaste de nós.
Nas empresas, fica um tanto difusa essa temática. Verificamos com clareza esses elementos quando as atividades são detreinamento. A quase totalidade das empresas cuida apenas de treinamento, educação para a tarefa. Cuida pouco da educação contínua.
É importante compreender que essas mesmas empresas têm como metáfora inspiradora, de forma inconsciente, o funcionamento das máquinas. Seus sistemas de gestão são estruturados em processos mecânicos, analisados a partir do que entra (inputs) e do que sai (outputs). Para que o processo siga seu fluxo, as pessoas são reduzidas a funcionários (o que faz funcionar) através do adestramento de tarefas.
Essa metáfora, ainda dominante, tem mais de cem anos e, na maioria das vezes, com resultados exitosos. Taylor obteve ambientes de trabalho mais seguros, permitiu que grandes empresas expandissem suas atividades, mas já dava mostras de esgotamento antes da primeira metade do século passado.
O objetivo desse artigo não tem foco nas escolas da administração (trato dessa trajetória em outros textos), mas apenas extraio a essência da metáfora que ainda subjaz em nossas empresas.
A verdade é que os papeis de permanente aprendizagem, de educação contínua, que a Família e a Escola iniciaram lá atrás se perdem ao longo da vida. Nas empresas, o padrão é de alto treinamento e de pouca educação ou qualquer reflexão sobre nosso tempo ou com os desafios de como conciliar alta performance com motivação e inovação.
Assim, é natural que observemos cada vez mais os jovens de alto potencial tendo tanta dificuldade para caber dentro das empresas. Nos tempos atuais em que a informação exponencialmente ofertada ao alcance de um clique, com o mundo em nossas telas e, no qual todos empregados de uma empresa dispõem de recursos e acessos semelhantes, talvez não caiba mais o alto treinamento e a baixa educação como cultura empresarial.
Diversas empresas oferecem MBAs, mentoria contínua e a tentativa de refletir e reconceber a educação internamente. Mas, para que isso aconteça é fundamental que nossos empregados retomem aquela atitude de aprendiz (que tínhamos na família e na escola) e tragam para o presente os mesmos quatro elementos essenciais e característicos da escola:
– O corpo docente: além dos cursos fora da empresa, quem são os possíveis docentes dentro da empresa? Por certo, existem pessoas superinteressantes que a falta de comunicação acaba deixando escondidas. Quanto menos julgarmos o outro, mais facilmente as encontraremos.
– O corpo discente: quem são os alunos para os docentes identificados? É claro que somos nós mesmos com a necessária atitude de ouvir mais e falar menos. Atitude de aprendiz.
– Qual o conteúdo a ser transferido (ou debatido)? De preferência, história, literatura, filosofia, arte, humanidades em geral. Tudo que nos enriqueça como pessoa e aumente nossa percepção do todo e das partes.
– E que prazos dispomos para que o aprendizado aconteça? Temos nosso tempo de vida para continuarmos sendo estudantes.
Hoje, muitas empresas já introduzem diversas iniciativas para que, além da metáfora maquinal que nos faz apenas funcionários, possamos evoluir enquanto pessoas e profissionais.
Talvez esse seja o maior desafio para as empresas perdurarem.