“…Napoli, Pino, Pi Paus, Punks…
…Meu mundo Telunius Monk’s blues…
…Orchata de chufa, si us plau…
A canção “Vaca Profana” de Caetano Veloso, com sua estética sonora elaborada, são de difícil compreensão se não nos debruçarmos na sua interpretação. Assim é a diversidade, alcançá-la além do que é normal e corriqueiro é o grande desafio para quem lidera organizações.
Não existe um ser humano igual ao outro, de perto ninguém é normal, outro trecho da mesma música. Para falarmos de diversidade, também importa falar de normalidade.
Normalidade é um padrão criado e aceito que alcança a maior parte das pessoas e das coisas a partir da cultura de uma determinada coletividade. Prezamos tanto a normalidade quanto ficamos admirados diante do que é diverso. Pode ser uma pedra rara ou um virtuoso no violoncelo como Yo-Yo Ma. A diversidade nos encanta e nos enleva. Não existiria arte sem a diversidade e não existiria o humano sem a arte. Assim, a diversidade é característica seminal de nossa espécie.
O raro é o que não se encontra na normalidade. É precioso, fora do padrão. E quase sempre, o novo é derivado de uma ideia diversa.
Acredito que o tema diversidade vem ganhando espaço com a questão do identitarismo de raça, gênero, vertente política ou religiosa, mas a questão vai muito além desses vieses. Temos fisiologias assemelhadas, mas mentes profundamente diversas.
A inovação, por definição, é algo que não existe ainda no mundo das coisas e das pessoas ditas normais. São feitas para alargar percepções e dar à luz o novo. Há uma incrível tensão dialética pois o novo, na maioria das vezes, surge das pessoas que mais dominam a rotina repetitiva.
O que tenho observado nas empresas é apenas um início dos questionamentos a respeito de como lidar com o que é diferente. Nossas empresas ainda trabalham inspiradas pela metáfora da máquina, onde a repetição leva ao aperfeiçoamento. As engrenagens devem estar todas padronizadas com um mínimo de tolerância. Muitas de nossas lideranças, predominantemente masculinas e brancas, enfrentam desafios ao lidar com colaboradores cheios de tatuagens, cabelos vermelhos ou rastafari. Temos ainda muito a aprender, somos, na maior parte das vezes, muito conservadores, mas cada vez menos, ainda bem.
Neste momento, e os que são da minha geração, impossível não lembrar de Raul Seixas e seu “Maluco beleza”: “Enquanto você se esforça pra ser um sujeito normal e fazer tudo igual, eu do meu lado aprendendo a ser louco, maluco total, na loucura real…”. Os artistas são sempre a antena ligada com o que ainda não existe. Precisamos de mais “Malucos beleza” em nossas organizações…
Lidero empresas há décadas e não me reconheço quando me vejo em 1986, 1996…! Nossa, mudamos muito em relação ao tema e é só o início. A troca do paradigma maquinal a inspirar o comportamento das empresas ainda está longe de terminar, mas está acontecendo.
A empresa é uma caixa de ressonância particular de nossa sociedade, nela todas as mudanças sociais devem reverberar em seus respectivos ritmos e processos de mudança. As que não mudarem deverão deixar de existir. É só uma questão de tempo.