A Manutenção é um desafio. Custo para as empresas e reclamação para quem opera os ativos. Vítima maior do dia a dia da nossa (des) organização industrial, a Manutenção necessita de ressignificação para todos, em especial, para nós, ocidentais.
No conceito ocidental, ela assumiu um papel que, no oriente, talvez não exista, pelo menos, no grau que hoje observamos: crescentes contingentes e custos com todas as consequências daí advindas, sendo a variável segurança, a principal delas.
No oriente, o verbo Manter é a junção de dois outros verbos: Fazer e Crescer. Ou seja, Manter é Fazer Crescer. Aqui, se quisermos melhorar o estado atual de nossas Manutenções, a primeira coisa seria repensá-la. Reconcebê-la. Deixar de ser algo separado da operação, da engenharia de processo ou da logística interna, sobretudo, das grandes indústrias.
A manutenção, seccionada do todo, dialeticamente, deveria ser “novamente” parte do todo. Incorporada ao todo.
É raro encontrarmos acionistas ou diretorias satisfeitos com a Manutenção (entenda-se aqui, Manutenção ocidental). E, com o paradigma semântico atual, receio que esse status quo não se alterará. Orçamentos crescentes, níveis insatisfatórios de segurança e de disponibilidade dos ativos. Uma nova “hermenêutica” deveria ser criada para refundar a Manutenção.
O maior desafio da Manutenção é, dialeticamente, extinguir-se como hoje está concebida. Ao trabalhar para sua própria extinção, ela, acredito, se engrandecerá em termos qualitativos e de resultados.
É muito interessante: frequentemente, sou chamado para fazer palestras sobre Manutenção, mas quase sempre, só a área de Manutenção está presente. Como poderemos melhorar a Manutenção de hoje se as pessoas responsáveis pelo seu estado atual não estão presentes?
Quando algo não funciona, você chama a Manutenção. Você chama alguém para consertar, via de regra, um problema não causado por ela. E assim, o ciclo continua: ela conserta e as outras partes continuam a quebrar (e a reclamar). Se realmente quisermos melhorar a Manutenção, devemos:
- “Pedir licença a Descartes” e incorporar a parte (Manutenção) ao todo (otimizacão no uso dos ativos).
- Redefinir o público que faz a Manutenção. Enquanto todos estiverem olhando para o próprio umbigo, os jogos corporativos de poder e interesse perpetuarão a agenda, impossibilitando a chegada do NOVO.
- Ter lideranças comprometidas com o NOVO.
Finalizando, reconheço que o desafio é grande, mas possível. Porém, aliado ao esforço que vejo as empresas fazendo para melhorar suas Manutenções, uma variável nova deveria ser introduzida, visando reconcebê-la.
A manutenção apenas como parte está condenada.
Autor: Murilo Sampaio