Como chegamos até aqui

Ideias do livro de Steven Johnson, lançado em 2014 nos EUA

Com um olhar de historiador da tecnologia e um texto agradável, o autor nos oferece uma aventura sobre quais inovações nos fizeram chegar até aqui.

Um dos conceitos mais explorados no livro (e que deve estar sempre na mente dos que mexem com inovação) é o de “cadeias evidentes e cadeias sutis”, quando uma inovação disruptiva introduz um novo paradigma: “A impressão de Gutemberg aumentou a demanda de óculos, já que a nova prática de leitura fez com que europeus por todo o continente percebessem cada vez mais que não enxergavam de perto…”. São muitos os exemplos que Johnson oferece sobre os desdobramentos imprevisíveis que as principais inovações disruptivas trouxeram.

Do VIDRO, de curiosa formulação química e processual, um novo mundo se abriu: “Os primeiros óculos eram chamados de roidi da ogli, ou discos para os olhos”, graças à sua semelhança com a lentilha – lens, em latim -, esses discos vieram se chamar lentes”; dos óculos para o microscópio, menos de um século depois, Robert Hooke desenharia à mão livre o que via no microscópio, registrando de forma seminal a origem dos estudos celulares.

Do FRIO que reconfigura a escala na produção e distribuição de alimentos e regula a temperatura ambiente, os desdobramentos foram infinitos. Texas e  Florida, por exemplo, antes quase inóspitos,  multiplicaram suas populações quando a temperatura ambiente pode ser controlada, influenciando até mesmo na corrida eleitoral americana para a presidência com uma expressiva representação.

 Do SOM que populariza ideias, sensações e altera em definitivo o fenômeno da comunicação em massa. O som pode até nos ajudar a enxergar mais. O Titanic não teria afundado e tampouco poderíamos ver o sexo do filho ainda em gestação. Sonares e aparelhos de ultrassom expandiram nossa visão.

 Da HIGIENE que transforma pântanos e esgotos em cidades prósperas e seguras até a manufatura de supercondutores. “Quando se está num recinto limpo, é importante lembrar dos esgotos repelentes, em rios subterrâneos de imundície, que tivemos de criar para isolar a vida cotidiana. Ao mesmo tempo, para fazer a revolução digital, tivemos de criar um ambiente hiperlimpo, para a fabricação de seus componentes e, igualmente, isolá-los dos ambientes cotidianos.”

 Da divisão e da administração do TEMPO que impulsionou o homem a ocupar o espaço de forma controlada, multiplicando fluxo de pessoas, informações, de bens e mercadorias. “A transferência dos relógios de sol para os relógios de pêndulo baseou-se numa mudança da astronomia para a dinâmica, a física do movimento. A revolução seguinte dependeria da eletromecânica. A cada revolução, no entanto, o padrão geral permanece o mesmo: os cientistas descobrem algum fenômeno natural que exibe a tendência de manter o “tempo igual” que Galileu observara nos lustres do altar, e em pouco tempo uma onda de inventores e engenheiros começa a usar esse novo ritmo para sincronizar seus dispositivos. Na década de 1880, Pierre e Jacques Curie detectaram pela primeira vez uma curiosa propriedade de certos cristais, incluindo o quartzo, o mesmo material que fora tão revolucionário para os fabricantes de vidro: sob pressão, esses cristais podem vibrar numa frequência surpreendentemente estável, efeito conhecido como piezeletricidade. Novas formas de medição criam novas possibilidades de construção. Com o tempo do quartzo, essa nova possibilidade foi a computação.”

 E, por fim, a LUZ ELÉTRICA, a lâmpada, símbolo recorrente de inovação, atendendo a um sonho antigo do homem de ter a luz do sol durante a noite. Poder ver quando o sol se põe. O raio perdido na noite, anunciando a tempestade, enfim seria controlado ao alcance do homem comum. A cena da noite seria iluminada, abrindo uma nova série de imprevisíveis desdobramentos.

Todas essas inovações explicam “Como chegamos aqui”. Disrupções paradigmáticas e contínuas melhorias incrementais. O progresso sempre foi feito assim: uma coisa e a outra. O livro é daqueles que não dá para parar de ler. Vale a pena. Como a leitura não é acadêmica, o texto é leve e delicioso. “Cadeias evidentes e cadeias sutis”, todas juntas, não esqueçam, podem nos ajudar a compreender tudo que foi criado pelo homem e está ao nosso redor.

 

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