De que forma evoluímos?
No mundo das coisas que tocamos, um parafuso para avançar um passo precisa dar toda uma volta em torno de seu próprio eixo. Quanto mais duro o material penetrado pelo parafuso, menor deve ser seu passo. Também, quanto mais macio for esse material, maior pode ser o passo (vide, por exemplo, as rolhas dos vinhos). Levando esse raciocínio do mundo das coisas para o mundo da vida, poderíamos imaginar que quanto mais difícil o desafio, menor é o passo que podemos dar. A evolução do que é mensurável é mais fácil do que a evolução do que só é perceptível.
Recentemente, li um artigo do Professor José Eli da Veiga, publicado no Valor Econômico, tentando “trocar em miúdos” os possíveis conceitos de dialética, aplicando-os a uma hierarquia da evolução de sistemas de menor complexidade aos de maior complexidade. Eli da Veiga, arriscando-se aos cartórios mais canônicos da Academia, colocava as dialéticas (no plural) como ferramentas metodológicas importantes para a compreensão dos diferentes sistemas em evolução.
Estágio das coisas, da natureza mineral e inorgânica que evolui para uma vida primitiva e daí para organismos mais complexos até os seres humanos que, então, começam um processo civilizatório e social, formando culturas ao longo do tempo. Para essa evolução, segundo Eli da Veiga, várias dialéticas podem nos auxiliar na compreensão dessa trajetória. Vale a pena a leitura do artigo.
Foi difícil para um engenheiro aristotélico ter que se assumir dialético. Trabalho com esse construto, “gestão dialética”, há 25 anos a partir da minha experiencia em lidar e liderar pessoas. Nas relações pessoais, a menor distância entre um problema e sua solução não é uma linha reta ou uma resposta direta. A melhor solução é aquela costurada entre os extremos das possibilidades. Aquilo que visita um polo e vai ao outro para encontrar o caminho de menor entropia ou de maior harmonia. Gosto da helicoide como metáfora inspiradora para a solução dos problemas. Temos que percorrê-la para construir soluções sustentáveis. Uma linha reta, ligando a circunstância, um problema, à sua solução acaba nos levando a um dos extremos e, assim, uma solução mais frágil.
Estabelecendo a evolução como o grande propósito da vida, é importante que, aos poucos, possamos desenvolver um método que acolha a complexidade dos problemas que temos, todos os dias, diante de nós, que busque sua melhor solução sem prejuízo temporal.
Quando lidamos com a vida, com essa multidão que nos habita, nossas emoções e a dimensão intangível do simbólico, o desafio de medir a evolução torna-se ainda mais difícil. Não existe mais barreiras entre o indivíduo e a organização. Soluções sustentáveis devem conciliar os dois em um processo de evolução helicoidal e razoavelmente harmônica.
É claro que o caminho helicoidal é mais difícil. Precisamos dispor de habilidades que raramente nos são ensinadas. Ouvir bem mais do que falar, respeito superlativo às diferenças, uma calma atitude com o tempo e uma intensa e persistente curiosidade infantil que jamais deve nos abandonar. O novo vem da curiosidade esquecida.
Assim, a melhor solução de um problema é aquela que o resolve de vez. Se não, ele retorna maior no dia seguinte.