Procuro ter uma regra básica para administrar meu tempo: metade do meu tempo, dedico para administrar o que já existe a outra metade, dedico a criar ao que ainda não existe. Mantenho-me vivo dessa forma: prioridade para lidar com o que já existe e a outra metade voltada para o que ainda não conheço, mas que precisa ter a mesma prioridade. Assim, AN (Atividades Novas) e AR (Atividades Rotineiras) precisam ser equilibradas. Essa é a forma que encontrei depois de muito tempo de vida.
Por exemplo, tenho várias tarefas importantes para hoje: começar a ler a biografia de Fernando Pessoa escrita por Richard Zenith (AN), sair para almoçar com meu enteado recém-casado (AR), liberar o Business Plan para o negócio de Internet das coisas (AN), cumprir a agenda de reuniões (no mínimo, quatro por dia, AR, escrever um artigo para esta coluna quinzenal (AN) ou, deixar tudo de lado, e ir caminhar no Ibirapuera: o que é prioritário para essas próximas dez horas?
É claro que demorei a vida toda para poder conquistar o que fazer com meu tempo. Hoje, o tempo é para mim o ativo mais precioso. De longe. Mas, mesmo assim, para melhor aproveitá-lo, algumas regras precisam ser observadas.
Prioridade é aquilo que você efetivamente dedica tempo e não o que você fala e repete ser importante. Prioridade é alocação de tempo. Estamos sempre com mais tarefas a fazer do que tempo disponível para executá-las.
Costumo dizer que somos o resultado de nossas decisões ao longo da vida e decidir é definir o que é mais importante, mais prioritário e, assim, ao que dedicamos mais tempo.
Relação entre importância e tempo dá origem a uma prioridade. Do latim prior (anterior), a prioridade faz referência à anterioridade relativamente a outra coisa no tempo ou na ordem. Embarque prioritário por lei, por exemplo como prioridade de ordem, um conceito do mais idoso para o mais jovem, mas aqui vamos tratar da prioridade temporal. Alocar tempo em assuntos devido à sua importância.
O saudoso médico baiano, Renato Simões, sempre me repetia que a SAÚDE é uma DEUSA, sem ela, ADEUS; ele destacava que as mesmas cinco letras nas três palavras deveriam reforçar a prioridade absoluta que deveríamos dar ao tema saúde. E a saúde está de fato liderando nossa lista de prioridades? Provavelmente, não. Falamos que ela é prioridade, mas alocamos pouco ou insuficiente tempo ao assunto.
Isso e aquilo são prioritários. Como definimos o que é prioridade? A noção de urgência para resolver algo que nos coloca em posição de risco iminente ou de perspectiva diferenciada de ganho em relação ao futuro. O que é prioritário?
Algo que nos dê prazer imediato? Algo que sequer está na agenda, mas quando surge, vira prioridade. Coisas do tipo sair para um happy hour, um encontro ou algo além de nossa discricionariedade ordinária.
O trabalho que nos toma tanto tempo acaba sendo prioritário mesmo que você não queira. As ideias para algo novo e estratégico acabam tendo um tempo exprimido pela agenda rotineira do trabalho.
Desconfio que a inércia do dia a dia faça com que não tenhamos um momento definido, ao acordar por exemplo, para definir todas as prioridades daquele dia. A introdução de temas estratégicos quase não ocupa espaço na agenda.
Acredito que a prioridade possa sugerir um conceito de equilíbrio, onde atividades necessárias para a execução da rotina diária sejam equilibradas com as atividades de maior alcance, cujos resultados só aparecerão bem mais adiante.
O que de pior pode acontecer às nossas vidas é jamais ter tido tempo pra tratar de nossas prioridades. Pensem nisso!