Existe um lugar perfeito para trabalhar? O ser humano pensa e age quase o tempo todo quando está acordado. Essas atividades podem ser ou não remuneradas. Quando ganhamos algum dinheiro pelas nossas atividades, convencionamos chamar de trabalho. É apenas um tipo de possível taxonomia, nada muito além disso. Se agimos e pensamos em um relacionamento a dois, podemos chamar de paixão, de prazer e até de casamento. Se nos relacionamos com pessoas ao longo da vida, podemos chamar de amizade. O fato é que, acordados, quase sempre pensamos e agimos e tais atividades podem ser classificadas de diferentes maneiras.
A questão é que o trabalho requer rotina e resultados de forma contínua, metódica e isso tende a criar um cotidiano performante e chato.
Assim, meu primeiro lugar ideal para trabalhar é aquele em que a rotina não signifique preencher minha vida repetindo sempre as mesmas coisas. Toda rotina deve conter repetição e inovação. Sem a provocação do novo, nos tornamos máquinas repetidoras e isso nada tem de atraente. Como tornar a rotina uma mistura de repetição e provocação para o novo é um desafio que tem a ver com o segundo quesito, a empatia das relações.
Uma organização é um emaranhado de relações. Com subordinados, pares e superiores, tudo acontece a partir das relações e da qualidade que elas alcançam. Lembro-me de Gregory Bateson, um grande antropólogo e semiólogo inglês que, com suas abordagens ajudou a levar a teoria dos sistemas para o universo social. Ele sempre repetia: o homem é o homem e suas relações. Assim, meu lugar perfeito para trabalhar é aquele que gera múltiplas relações de qualidade. Relações com pouco ruído que fazem as partes evoluir e prosperar.
Já temos dois elementos para construir nosso lugar perfeito para trabalhar: uma rotina que não só se repete e a criação de relações empáticas de qualidade superior.
O terceiro elemento (que poderia ser o primeiro não fosse o efeito corporativo diluidor de percepções) é o que está ligado aos valores da organização onde você trabalha. As multinacionais estão sempre enquadradas pelas exigências de compliance e de governança corporativa, mas em empresas de dono, o tema é mais complicado. Cabe uma pesquisa profunda para ver se você se identifica com os valores verdadeiros da empresa.
Um quarto elemento tem a ver com sua observação. As pessoas mais antigas na organização são pessoas que evoluíram? São pessoas que você admira, têm conteúdo e motivadoras ou os cargos de liderança têm um turnover elevado e você não consegue ver evolução das pessoas na liderança da empresa?
É claro que remuneração e benefício são incentivos circunstancialmente importantes, mas nem de longe contribuem para tornar, de forma sustentável, o seu local de trabalho perfeito para trabalhar. Precisamos mais dos elementos subjetivos do que dos de evidente objetividade.
Para um líder, capaz de redesenhar a rotina e a qualidade das relações na organização, meio caminho está feito. Se ele, além disso, for capaz de estabelecer valores que estejam efetivamente presentes no dia a dia, tudo isso, contribuirá para que pensemos e ajamos de forma motivadora onde passamos boa parte de nossa vida.
Apesar de difícil encontrar, o local perfeito para trabalharmos precisa ter esses elementos: rotina criativa, relações de qualidade, valores compatíveis aos nossos, perspectiva de evolução e prosperidade.
3 Comentários. Deixe novo
Acho que a frase no final deste precioso artigo do Murilo Sampaio deveria ficar em nossa mente e em nossas ações:: “Apesar de difícil encontrar, o local perfeito para trabalharmos precisa ter esses elementos: rotina criativa, relações de qualidade, valores compatíveis aos nossos, perspectiva de evolução e prosperidade”. Parabéns, Murilo, por resumir em poucas palavras algo que pode resignificar a nossa vida pessoal e profissional.
Concordo plenamente! Tive o privilégio de trabalhar 33 anos na Varig onde tive a oportunidade de experimentar todos esses atributos mencionados.
Apesar dos meus 68 anos de idade, ainda me sinto capaz de agregar valor em alguma empresa com esse ambiente.
Boas observações! Tive o privilégio de trabalhar 33 anos na Varig onde tive a oportunidade de experimentar todos esses atributos mencionados.
Apesar dos meus 68 anos de idade, ainda me sinto capaz de agregar valor em alguma empresa com esse ambiente.