Nos últimos três seminários que participei presencialmente, o primeiro sobre geração de crédito de carbono, o segundo sobre hidrogênio verde e o terceiro, patrocinado por um banco, sobre a conjuntura econômica nacional e internacional, constatei que aparentemente eu devia ser o mais idoso dentre os participantes.
Quando isso acontece, de eu ser mais idoso no recinto, experimento uma mistura de sensações. Por um lado, sinto uma certa inadequação geracional (o que eu estou fazendo aqui?), mas pelo outro, uma certa paz e alegria de ainda ter motivação de estar ali. A velhice e a morte são evidentes com a ausência de motivação.
Houve um tempo, precoce que era, o inverso era a rotina. Sempre o mais jovem nas reuniões, diretor aos 29 anos, viajava na minha juventude com a ilusão da eternidade.
Cronos, deus do tempo na mitologia grega, matou o pai e devorou os filhos, em ilustração humanizada da força do tempo que a tudo e a todos devora em nome de uma pretensa evolução. Somos todos subordinados ao tempo com sua roda irreversível.
Mas, o que nos faz, idosos, envelhecer de verdade? A resposta é simples e a repito sempre: envelhecemos quando temos mais estórias para contar do que planos a realizar. Nesse sentido, um idoso de 65 anos pode ser mais jovem do que um jovem de 30. Sem planos, não temos futuro. Essa ideia de que o melhor lugar do mundo é aqui e agora, a meu ver, tem ressalvas importantes.
O melhor lugar do mundo é aqui e agora, onde as dimensões do tempo — passado, presente e futuro — estão harmonizadas.
Nossa percepção do tempo muda com a idade. Quando jovens, a finitude da vida não é assunto, estamos todos querendo fazer a vida, progredir, casar, constituir família, embalados pelo sonho de um futuro melhor. Quando chegamos aos quarenta, a coisa já não é bem assim. Alguns dos sonhos não se concretizaram, prestamos atenção a mais coisas do que antes e, não raro, passamos a ter um certo receio sobre o futuro. Não chego a dizer que o destemor de antes se transformou em medo, mas passamos a ter, sim, uma necessidade de visualizar as coisas da vida com maior lucidez.
Ao cruzarmos os sessenta, por um lado, você se permite mais, relaxa com mais frequência, mas precisa ter um plano de vida para a chamada terceira idade. Não adianta ignorar a passagem do tempo, tentar se comportar como se não tivesse a idade que tem, mas, melhor do que isso é poder compilar as diversas experiencias que a vida lhe deu, mantendo uma lucidez madura e ainda criativa.
A lucidez precisa ser o maior ativo da terceira idade. Aquele que consegue ter saúde para usufruir essa lucidez é um privilegiado. Assim, quando adentro em um ambiente que parece só ter jovens, uso minha lucidez para relativizar o que cada um está fazendo ali.
Ficar idoso é inexorável, envelhecer é uma opção.