Organizações complexas precisam de lideranças. Organizações simples podem ser operadas apenas com chefes.
Todos devemos avaliar o nível de complexidade da empresa em que trabalhamos. Ela é uma fabricante, uma prestadora de serviços, atua apenas localmente ou é uma multinacional com mais da metade de seu faturamento proveniente de suas atividades globais? Em que tipo de empresa, você trabalha? Dependendo, você poderá avaliar se seu futuro está em sua empresa atual ou não. Você está mais para líder ou para chefe?
Há mais de trinta anos, li o livro de Amitai Etzioni, Organizações complexas, uma tentativa de compreender e classificar os diversos tecidos organizacionais em que vivemos. Aquilo que é verdade em uma organização simples como um núcleo familiar, por exemplo, pode não ter utilidade em uma grande organização. Complexidade não tem a ver só com o tamanho das empresas, é preciso conhecer o nível de complexidade de uma organização se queremos liderá-la.
Quanto mais isolamos a empresa da sociedade, menos complexa ela se torna. A metáfora da máquina, inspiradora do funcionamento das empresas, se faz mais presente. Nelas, o indivíduo vira apenas um funcionário e ela precisa mais de chefes, de comando e controle, do que de líderes. Tentando torná-la mais simples, menos complexa, onde o indivíduo é apenas um funcionário, aquele que faz funcionar, uma peça, mas com isso, também esterilizamos a empresa. Com peças, funcionários, não há inovação, apenas repetição.
Discutia no almoço com um velho amigo, professor da UNB há décadas, sobre a validade das opiniões. Dependendo se falamos da família, da empresa grande ou pequena, da nossa cidade, estado ou país, nossas opiniões devem ser contextualizadas para ter qualquer validade. Qualquer opinião só tem valor se contextualizada.
Liderei e lidero pequenas, médias e grandes empresas, mas não tenho a menor ideia do que seja liderar, por exemplo, uma Apple com um valor em bolsa superior a três trilhões de dólares (O PIB brasileiro é pouco maior de dois trilhões de dólares, dependendo do câmbio). Não faço ideia como minhas opiniões poderiam funcionar em tal ambiente. Toda opinião precisa ser avaliada pela dinâmica das circunstâncias.
Em organizações super complexas, como a Apple, atuando globalmente, com mais de cento e cinquenta mil funcionários, fabricando e prestando serviços simultaneamente, é quase impensável que a metáfora da máquina seja abandonada. Mas, dialeticamente, é uma empresa que vive de inovação. O que é ser líder em uma empresa desse tipo?
A verdade é que, independentemente do tamanho e da complexidade, precisamos ser chefes (fazer funcionar) e líderes (introduzir inovações) o tempo todo. A complexidade ainda é pouco avaliada quando tentamos definir uma empresa e, mais ainda, quais papeis podemos desempenhar nessa empresa.
Acho que todos devemos refletir sobre o quanto de chefe (comando e controle) e o quanto de líder (construir um futuro melhor) estão presentes em nosso perfil.