Conversando com um querido psiquiatra amigo meu, explorei diversos estágios de ansiedade que o mundo do trabalho acaba provocando em todos nós. Situações extremas podem causar certas patologias.

Existem doenças e síndromes. Descobrimos qual é a doença a partir de certos sintomas. Já as síndromes têm múltiplos sintomas. É um quadro de interdependentes doenças e sintomas. É mais complexa que uma única doença.

Ao longo de anos, observo o comportamento dos líderes que trabalham direta ou indiretamente comigo e fico a me perguntar quantas dessas pessoas, neste momento, gostariam realmente de trabalhar onde estão trabalhando.

Liderar um grupo, pequeno ou corporativo, demanda a sensibilidade para avaliar se as pessoas estão motivadas trabalhando onde estão. Percebo vários comportamentos distintos.

Aos poucos, fui listando comportamentos diferentes que as pessoas insatisfeitas vão apresentando desde a falta de motivação até quadros depressivos causados pela inadequação da pessoa com seu trabalho.

Existe a inadequação a uma certa tarefa, missão ou desafio. Por exemplo, um líder pode ser naturalmente comunicativo, mas é comum encontrar líderes com dificuldades nessa área. Nada que um treinamento não possa ajudar. Não me refiro a essas dificuldades, mas sim quando deixa de haver conexão do líder com a empresa onde trabalha.

Chamo de “Síndrome da Hora de Mudar de Emprego (SHME)” pelos múltiplos sintomas que ela provoca. Pela experiência, é difícil formar e manter um grupo sem que qualquer participante não esteja acometido por ela. Começamos a desconfiar da qualidade da liderança quando a maior parte do grupo se contagia com a SHME.

Alguns testes para ver se você está acometido pela SHME:

– Falta de empatia com seu líder imediato. Muito do que achamos de trabalhar na empresa que trabalhamos tem a ver com a qualidade da relação com seu superior imediato. Você gosta da empresa, mas a qualidade da relação pessoal, frequente e intensa com seu chefe lhe é desmotivadora. É como se você gostasse da cidade onde mora, mas não do bairro ou mesmo da rua em que sua casa está localizada. Essa falta de empatia pode apresentar sintomas leves, mas também sintomas mais pesados. Ao longo da minha vida profissional, essa relação direta líder e liderado é a causa mais frequente de desmotivação, falta de perspectiva e o que nos faz procurar novas oportunidades fora do bairro que habito.

– Falta de empatia entre seus valores e os valores da empresa. A questão ética vem crescendo em importância nas organizações a partir de demandas sociais por maior transparência sobre como cada empresa faz seus negócios e obtêm seus resultados. Quanto mais importante é sua liderança, mais você se aproxima do poder da empresa, normalmente definido pela sua propriedade. A SHME, nesses casos, só pode ser administrada a partir da saída da empresa o mais rapidamente possível.

– Falta de perspectiva entre sua legítima ambição e o que a empresa tem a oferecer. Quando não há uma potencial conexão entre seu desejo de futuro e a realidade que você tem diariamente, a HSME vai apresentando sintomas de desmotivação crescente. Quando o quadro não se resolve, sintomas como desatenção, falta de paciência ou até de irritação podem ocorrer.

O fato é que a SHME raramente se estabelece da noite para o dia. É uma integral de eventos. Imagine, tudo de uma vez, falta de empatia com a liderança imediata, de seus valores com os valores da empresa e da falta de perspectiva. Essa integral de eventos pode lhe levar a um quadro grave de sintomas por trabalhar em um clima ruim, diferente do que sonhara. Um quadro depressivo é o sintoma mais grave da SHME.

Pior ainda é quando o tempo vai passando e você se acostuma com essa situação. Aprende a conviver com os sintomas da síndrome e, aos poucos, vai apenas cumprindo seu papel com, cada vez mais, menos alegria e eficiência. A chance de vir a ser descartado aumenta com o tempo.

Resumindo, se quero ver até onde posso ir como líder, preciso estar atento para quando essa síndrome começa a aparecer. Há muitos outros motivos e convêm estar ligado aos primeiros sinais.