Diversão e trabalho: tem algo a ver?

“Ich will eine Arbeit die mir Spass macht!”
(Eu quero um trabalho que me divirta!).

Era essa a preferência dos alemães na década dos anos 60. Isso foi saindo de moda, mas suspeito que essa questão está voltando.

Na tradução da bíblia em hebraico arcaico para o alemão empreendida por Lutero no século XVI, a palavra trabalho mereceu importante destaque pelo seu alcance transformador. Ao invés de, como era de se esperar, Lutero não usou a palavra Die Arbeit (o trabalho, em sentido mais laboral), mas sim, a palavra Der Beruf (o chamamento) como se fosse o nosso trabalho uma vocação, um chamado divino. A interpretação weberiana em seu livro “A ética protestante e o espírito do capitalismo” sobre essa tradução, e seu impacto na relação do homem com seu trabalho, mereceu amplo debate no século XX. O trabalho não deveria ter uma conotação negativa ou punitiva, mas antes, um sentido de evolução espiritual.

Ao assistirmos filmes sobre a segunda guerra mundial, alguns de nós devem se lembrar que na entrada dos campos de concentração constava a inscrição Die Arbeit macht frei (o trabalho liberta) não é o mesmo trabalho do que quando o escolhemos como uma resposta ao chamamento divino, vocacional.

Não vou dedicar tempo com as inúmeras interpretações da origem da palavra trabalho, no geral, quase todas negativas. O fato é que temos que trabalhar e precisamos, cada um ao seu jeito, ressignificar essa palavra. Passamos a maior parte da vida trabalhando e temos que dar um sentido a tudo isso!

O trabalho precisa ser divertido! Causar prazer e nos entusiasmar. Diversão e diversidade têm a mesma raiz etimológica. Diversão que traz alegria é algo diverso, diferente, e o oposto à repetição e ao que a rotina sugere. A rotina precisa ser igualmente ressignificada para que o trabalho passe a ser interessante. Enquanto a rotina persistir em repetir o nosso cotidiano, o trabalho não nos empolgará.

A rotina precisa dialeticamente ser repetição e diversão.

Todas as rotinas processuais que criamos não podem aprisionar nossa curiosidade pelo que é diverso, pelo que é novo e nos entusiasma. Entusiasmar vem do grego enTEOsiasmar, ou seja, quando Deus pulsa dentro de nós.

Nossa rotina de liderança precisa ser concebida e conceituada mais a partir da diversidade do que da repetição.

Em quarenta e cinco anos de trabalho foram apenas em cinco empresas, sendo a última década com as minhas empresas. Olhando em revista, vejo que o que me fez trocar de trabalho foi a repetição dos problemas que não conseguimos resolver. O pior da repetição na rotina é a repetição dos mesmos problemas.

Problema é coisa boa quando traz a possibilidade do novo, quando é a oportunidade de expandir nosso conhecimento e sensibilidade. Problema é prenúncio de evolução quando não são repetitivos. Problemas que se repetem é a morte de nossa rotina e a prova irrefutável de que temos que mudar.

Quando eu era jovem, os problemas me consumiam, não conseguia compreender que a vida é transformar problemas em oportunidades. Já, lá pelos trinta e quarenta anos, dispunha de ferramentas gerenciais para administrar os problemas, mas ainda trazendo uma certa ansiedade. Agora, mais velho, os problemas me divertem e, se bem tratados, me entusiasmam.

Problema pode trazer novos desafios, caminho para a diversidade e para a inovação. E é no novo que brota a diversão e o entusiasmo.

Hoje, aos sessenta sete, o trabalho precisa ser diversão, se não, não me interessa. Levei uma vida para construir minha atitude em relação aos problemas.

Trabalho e diversão, tudo a ver.

Anterior
Amizade verdadeira é improvável no trabalho
Próximo
Estratégia e Resultado: duas faces da mesma moeda

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Preencha esse campo
Preencha esse campo
Digite um endereço de e-mail válido.
Você precisa concordar com os termos para prosseguir

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Menu