Só as abordagens (primeira e segunda) que propõem a elaboração de estratégias a partir da estrutura do setor encontram limitações para compreender e explicar toda a dinâmica e os resultados das empresas. Por outro lado, só a abordagem da VBR (Visão Baseada em Recursos) também encontra certas limitações para explicação de toda a dinâmica.
À medida que essas abordagens, a priori quase antagônicas, são substituídas por uma atitude analítica orientada a complementá-las (e não a separá-las), a estratégia de uma empresa deverá estudar seu ambiente com todas as limitações (e também oportunidades) e, tão ou mais importante, ser capaz de gerenciar seus recursos de tal forma a gerar e sustentar diferenciais competitivos.
A essa habilidade da liderança de, por um lado, conhecer e capacitar seu pessoal, seus recursos existentes, descobrir novos, otimizá-los continuamente e, por outro, harmonizar tais ações com a dinâmica da leitura dos sinais conjunturais, podemos associar o conceito de capabilidade dinâmica da empresa. Toda essa dinâmica norteada por propósitos e apresentando resultados concretos e sustentáveis a longo prazo.
Teece identifica três processos-chave para a criação de capabilidade dinâmica: (1) A coordenação e integração das atividades internas e externas (2) Aprendizagem, vista coletivamente, que, de forma repetida, leva as empresas a fazerem melhor e mais rapidamente suas tarefas e (3) Reconfiguração e transformação que são baseadas no acompanhamento do mercado e do ambiente tecnológico.
“É o conjunto de processos que permite à firma criar novos produtos, processos e rotinas, e responder às mudanças ambientais .Tais características são definidas como críticas para a sobrevivência no longo prazo da empresa. São elas seus motores de inovação” (Teece et al, apud Proença)
A capabilidade dinâmica é um padrão dominado da atividade coletiva, através da qual, a organização gera e modifica sistematicamente suas rotinas a fim de perseguir a melhor performance.
Spender, numa importante crítica da abordagem clássica sobre a origem da firma e em busca de uma epistemologia inclusiva de novos elementos que pudessem configurar a firma como algo aberto, essencialmente dinâmico, em permanente troca, com seus integrantes gerando continuamente conhecimento, tido pelo autor, como o principal elemento dentre os recursos da firma, propõe que as organizações passem a ter maior flexibilidade interpretativa, limites gerenciais móveis, maior interação com influências institucionais e distinção funcional entre os sistemas e seus componentes.
Assim, continua o autor, o conceito de capabilidade dinâmica está associado aos seguintes termos: gestão do conhecimento, harmonização entre estratégia e rotina, entre explotação e exploração, adaptação e evolução e sistemas abertos e flexíveis.
Finalizando a revisão conceitual sobre capabilidade dinâmica, o modelo de Fugimoto aponta para três fases e naturezas: (a)capacitação estática, rotineira e repetitiva, interferindo no desempenho, através da qualidade e produtividade. Ganhos incrementais; (b) a capacitação de melhoria, um passo adiante, também é rotineira, mas muda o nível de desempenho, não apenas incrementando-o; (c) o terceiro tipo de capacitação, a que o autor chama de evolucionária, não é rotineira, caracteriza-se pela mudança na forma de fazer as coisas. Uma capacitação que interfere com a ordem institucional e aceita.
Para efeito de nosso estudo, vamos construindo a ideia quepermite apontar para uma relação mais próxima entre a figura convencional do gerente e as capacitações estáticas acima mencionadas. E, de uma forma, ainda exploratória, imaginar que as lideranças diferenciadas possam se relacionar mais estreitamente com a geração das capacitações evolucionárias, dinâmicas e disruptivas.
Como vimos, determinados elementos constitutivos estão presentes no campo semântico dos conceitos tanto de liderança quanto de capabilidade dinâmica. A ideia de MUDANÇA é o mais presente deles.
Em que grau a interferência da liderança define a qualidade da mudança empreendida? Dos atributos que caracterizam uma liderança diferenciada, um dos mais destacados diz respeito exatamente à capacidade de promover mudanças em situações importantes, críticos ou mesmo de rompimento.
Já na revisão conceitual de capabilidade dinâmica, o elemento sempre presente é o de levar os recursos de uma empresa a estágios de performance sempre crescente. Em outras palavras, promover uma cultura permanente de mudança evolutiva.
Exemplificando, duas empresas A e B, fundadas na mesma época, com a mesma tecnologia, utilizando as mesmas matérias-primas, atuam no mesmo setor e com a mesma estrutura de capital. Elas, porém, apresentam resultados repetidamente diversos, sempre a favor da empresa A. A diferença entre elas está na competência das equipes, desenvolvidas e motivadas pelas suas respectivas lideranças que aculturam cada uma das empresas a evoluir à sua maneira. Cada uma forma, desenvolve e gerencia a sua cultura a partir de sua liderança.
A título de exploração, listamos abaixo algumas hipóteses que devem ser testadas na prática em nossas empresas para explicar histórias de sucesso e de fracasso:
– Quanto mais clara é a VISÃO da empresa, maior é a sua geração de capabilidade dinâmica
– Quanto mais eficiente é o processo de COMUNICAÇÃO da empresa, mais facilmente sua capabilidade dinâmica se desenvolve
– Quanto mais a empresa está ACULTURADA para promoção de MUDANÇAS, maior é a sua geração de capabilidade dinâmica
– Quanto maior o senso coletivo de TRANSPARÊNCIA naorganização, maior é a sua geração de capabilidade dinâmica
– Quanto menor o turnover dos postos de liderança, maior é a geração de capabilidade dinâmica
Algumas outras hipóteses poderiam aumentar essa lista.
A liderança motivada e motivadora, visionária, com senso de urgência, intuitiva, sensível, que corre riscos e aposta no conhecimento, acredito, fará a diferença entre as que apenas possuem recursos e aquelas que atingem e mantem resultados sustentáveis.
A qualidade da liderança e a geração de capabilidade dinâmica estão diretamente interligadas nas organizações.