A cada dia, mais me convenço que a qualidade da comunicação que a liderança exerce é um acelerador essencial, não só de performance, mas de educação para a gestão da cultura organizacional.
Ter valores elogiáveis e praticá-los efetivamente é algo mais básico do que diferenciador.
Ter conteúdo técnico é outro diferencial competitivo, mas as empresas brasileiras pouco investem em P&D e são raras as inovações tecnológicas brasileiras de alto impacto fora do agronegócio.
Alinhar estratégias no sistema operacional da empresa, ressignificando a rotina como o locus de transformação da realidade só é possível por meio de uma comunicação diferenciada.
Mas, como fazer da comunicação um fator diferenciador?
Toda reunião deveria acabar, não com o cumprimento da pauta de assuntos, mas com a resposta à pergunta: o que, como e para quem as decisões devem ser transmitidas. Sem esse cuidado, as decisões perdem eficácia e o sistema deixa de ser energizado.
Uma decisão só existe em sua plenitude quando bem comunicada.
Comunicação sem conteúdo não se sustenta.
Conteúdo sem comunicação não prospera.
É incomum, para não dizer inexistente, termos a disciplina Comunicação geral ou Comunicação organizacional na formação de um engenheiro, economista ou de um médico. A formação é, não sem razão, focada em conteúdo. Assim, saímos da Academia para a vida real dependendo tão somente dos traços de personalidade de cada um. É uma grande lacuna em nossa formação e precisamos, já no exercício de nossa vida profissional, aprender a nos comunicar.
A melhor comunicação da liderança se faz naturalmente a partir de uma língua e de dois ouvidos, não o inverso. Aprender a ouvir com atenção e presença pode gerar um tremendo diferencial. Criar uma cultura que saiba ouvir é essencial para estabelecermos uma comunicação eficaz.
Escute, escute sempre. Mesmo quando achar que já sabe do que o interlocutor vai falar, escute mais uma vez. Nunca uma estória é contada igualmente por interlocutores diferentes. Saber ouvir gera conteúdo e empatia, outra habilidade para a boa comunicação.
Aprender a falar gerando empatia é uma habilidade extraordinária. Seja falando ou escrevendo, é difícil imaginar que uma liderança se sustente se não souber desenvolver seu estilo retórico aderente à cultura ou escrever um parágrafo sem erros crassos em sua própria linguagem. Há exceções, cada vez mais em número menor.
Cuidado com o procedimento e com a forma é necessário, mas não o suficiente. A comunicação diferenciada deve ir além. Deve ser capaz de informar objetivamente, mas deve ser capaz de motivar a quem ouve. Na minha prática gerencial, uso sempre a expressão “cobrar motivando”. É uma habilidade rara a de cobrar ao mesmo tempo que motiva por melhores resultados.
A comunicação é uma espécie de atrito que pode gerar apenas calor, mas também pode gerar movimento. E é essa a comunicação que devemos aprender, a que gera movimento e não, calor e entropia relacional.