Evolução: fracassos e sucessos

Ainda muito jovem, fui escalado a acompanhar o Engenheiro Orfila Lima do Santos, então o todo poderoso diretor de produção e exploração da Petrobras e responsável pelas operações da Bacia de Campos.

Era uma viagem do Rio para Sertãozinho, interior de São Paulo, num pequeno avião bimotor. Orfila se fazia acompanhar dos chefes das áreas de suprimentos, industrial e engenharia. Eram quase duas horas de voo, partindo do Santos Dumont. Eu tinha 23 anos, Orfila, perto dos sessenta e os demais, em torno dos 50 anos. Minha excitação era evidente. Poder ficar ao lado e junto com uma turma de tamanho peso na área de petróleo, me fazia querer, por um lado, aproveitar ao máximo essa oportunidade, mas ao mesmo tempo, media, cuidadoso, cada palavra.

Decolagem, Pão de Açúcar para trás, o avião nivelado, comecei a arriscar: “- Doutor Orfila, como é que se chega a diretor da Petrobrás?” Orfila era um piauiense, de estatura baixa e com fama de durão. Ao ouvir minha pergunta, ele sorriu e, naquele momento, ele falou comigo de forma carinhosa, paciente e sábia, não falava para um fornecedor de equipamentos. Falava do alto de sua experiencia para um jovem curioso: “- Para chegar à diretoria da Petrobrás, eu tive sempre que aceitar desafios para os quais não estava preparado. Você só evolui assim.

Até hoje, lembro dessa viagem e jamais esqueci aquela conversa com Doutor Orfila, de quem jamais deixei de visitar, já aposentado, quando voltava ao Rio.

Ao longo da carreira, temos determinadas esquinas, momentos em que tomamos decisões quase irreversíveis que alteram o transcurso de nossa vida.

Nossa evolução é um somatório de sucessos e fracassos, resultados dos desafios que aceitamos na tentativa de progredir.

As palavras, sempre elas, ensinam e oferecem a história da evolução de nossa cultura. É sempre importante averiguar como os significados vão se modificando ao longo do tempo.

A palavra “sucesso” vem do latim, successus, sugere avanço, seguimento e, apenas lá pelo século XV, começou a ser compreendido como algo que possui resultado ou desfecho favorável. Já a palavra “fracasso” deriva de frangere (quebrar) e quassare (chacoalhar). É quase mais ou menos assim: se há sucesso, você avança e prossegue; se há fracasso, você quebra ou, pelo menos, leva uma chacoalhada. Mas, lembrando o velho Orfila, se, para crescer, precisamos aceitar desafios para os quais ainda não estamos preparados, a chance de fracassarmos é real.

Todos nós deveríamos ter um fracasso de quando em quando. Não um fracasso que nos quebre por completo, mas sim, um fracasso capaz de nos ensinar novos conteúdos e que, de quebra, seja capaz de espicaçar nosso orgulho e soberba que só atrapalham nossa evolução e, muitas vezes, vêm com o sucesso.

Acredito que a combinação de sucessos e fracassos compõem a trajetória dos líderes que fazem a diferença e que sejam inspiradores para os novos líderes.

Guardo a lembrança do velho Orfila como uma referência positiva que todo jovem deveria ter o privilégio de conhecer.

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