Certa feita, no final de 1999, um empresário do ramo petroquímico foi receber uma justa homenagem pela sua trajetória exitosa no setor. Coube-lhe a palavra para um discurso de agradecimento. Subiu ao púlpito e falou: “O ano que vem será um ano atípico. Nunca vivi um ano típico”. Agradeceu e voltou ao seu lugar. Lembro-me sempre desse brevíssimo discurso. De fato, não conheço o que seria um ano típico.
Com frequência, observamos alterações de preços, decorrentes de desequilíbrios entre oferta e demanda, conjuntura internacional, variáveis políticas influenciando na dinâmica da economia, inovações redefinindo patamares tecnológicos, além de diversas outras oferecendo uma conjuntura sempre cambiante.
Com tanta volatilidade conjuntural, em que grau a liderança define a qualidade dos resultados de sua empresa? Dos atributos que caracterizam uma liderança diferenciada, um dos mais destacados diz respeito exatamente à capacidade de promover mudanças em situações críticas ou mesmo de rompimento. Ou seja, como reagir àquilo que não se tem influência?
Por outro lado, dentro da empresa, a capabilidade dinâmica, conceito que deve estar presente para a contínua reflexão de quem lidera empresas, deve levar os recursos de uma empresa a estágios de performance sempre crescentes. Em outras palavras, promover uma cultura permanente de mudança evolutiva. Isso não depende da conjuntura.
Exemplificando, duas empresas A e B, fundadas na mesma época, com a mesma tecnologia, utilizando as mesmas matérias-primas, atuam no mesmo setor e com a mesma estrutura de capital. Elas, porém, apresentam resultados repetidamente diversos, independentemente das mudanças conjunturais, sempre a favor da empresa A.
A diferença entre elas está na competência das equipes, desenvolvidas e motivadas pelas suas respectivas lideranças que aculturam cada uma das empresas a evoluir à sua maneira. Cada uma forma, desenvolve e gerencia a sua cultura a partir de sua liderança. Por que isso ocorre?
A título de exploração, listamos abaixo algumas hipóteses que devem ser testadas na prática em nossas empresas para explicar histórias de sucesso e de fracasso:
– Quanto mais clara é a VISÃO da empresa, maior é a geração de capabilidade dinâmica;
– Quanto mais eficiente é o processo de COMUNICAÇÃO da empresa, mais facilmente sua capabilidade dinâmica se desenvolve;
– Quanto mais a empresa está ACULTURADA para promoção de MUDANÇAS, maior é a sua geração de capabilidade dinâmica;
– Quanto maior o senso coletivo de TRANSPARÊNCIA na organização, maior é a sua geração de capabilidade dinâmica;
– Quanto menor o turnover dos postos de liderança, maior é a geração de capabilidade dinâmica.
Algumas outras hipóteses poderiam aumentar essa lista que garante o crescimento de valor sustentável.
A liderança motivada e motivadora, visionária, com senso de urgência, intuitiva, sensível, que corre riscos e aposta no conhecimento, acredito, faz a diferença entre as que apenas possuem recursos e aquelas que atingem e mantêm resultados sustentáveis.
Empresas aculturadas a partir dessas variáveis tendem a apresentar resultados superiores e sustentáveis, em qualquer conjuntura, em relação àquelas que insistem em pensar na empresa convencional.
A conjuntura não pode ser utilizada com frequência para justificar resultados ruins.