Na permanente discussão sobre inovação, estratégia e rotina, lidar com o tempo é o desafio mais complexo que existe. Deve nos consolar, pois a própria filosofia reconhece que esse tema, o tempo, é o seu maior desafio também.
Inúmeras abordagens e culturas tentam traduzir em palavras (o que é sempre limitado e impreciso) um sentido para o tempo. Falta-me conhecimento para acompanhar as vertentes científicas e teóricas. Me perco. Einstein não tem em mim um bom aluno.
Acostumado a lidar com o humano, contento-me com o conceito da “flecha do tempo” que aponta para uma certa compreensão do passado, presente e futuro.
De qualquer forma, são importantes as duas palavras abaixo, relacionadas com o tempo, que nos ajudam a construir o futuro de forma relativa:
Ilusão: Quase deboche, uma certa ironia, do real que não alcançamos. O tempo está me iludindo.
Abstração: Mergulhar fora do real, na dimensão do tempo que não sentimos.
Como lidar com o futuro sem trabalhar a questão do tempo? Como lidar com o tempo sem construir a ideia de mente?
De forma ampliada, gosto de pensar a mente como um total, uma soma imprecisa, sustentada por três pilares em permanente mudança:
– Os sentidos: Os sentidos são de nosso corpo. Convencionamos aceitar que temos cinco, mas nenhum deles pode sentir o tempo. A imaginação, de olhos fechados, permite criar uma ideia de futuro, algo além dos sentidos.
– Os sentimentos: Raiva, alegria, medo, confiança, amor, euforia, paixão…. são muitos e alguns chegam a contá-los e categorizá-los. Prefiro chamar os sentimentos como os “sentidos da alma”. Eles trazem uma ideia poderosa que nos ajuda a construir o futuro. Uma ideia de que cada sentimento tem o seu oposto. Essa dualidade dicotômica deve ser, a meu ver, transformada por uma atitude dialética de convivência dos nossos sentimentos antagônicos. Somos os dois lados dessa reação anímica, amor e desamor, medo e liberdade, euforia e depressão, confiança e descrença…. Somos todos eles, às vezes, ao mesmo tempo.
– A cognição: Consciente e inconsciente; o que é decodificado pela ciência e o que continua no terreno da crença. Nossa memória é um almoxarifado infinito. Algumas coisas alcançamos rapidamente, outras já se foram, mas continuam a existir. Gosto de significar a cognição como o caminho que vamos percorrendo e, de alguma forma, absorvendo o tempo.
Imaginemos esses três elementos misturados, em combinação imprevisível, contínua e intensa. O resultado, em palavras, é o que, para mim, mais se aproxima da mente humana. Distancio-me, cada vez mais, da ideia de que a mente pode ser apenas um sinônimo de exercício, locus teórico, da razão. É um conceito complexo, mas precisamos buscar alguma aproximação com ele para lidar com a ideia de tempo, de passado, presente e futuro.
Na semana que passou, começamos um novo ciclo de “mentoring” com o tema: “Um passo para o futuro: lidando com o tempo”. Quase não falamos de tecnologia (algo natural quando falamos de futuro), dedicamos quase todas as duas horas para falar sobre o indivíduo e a construção de futuro na perspectiva dos desafios que quase não mudam com o tempo.
De tudo que falamos e discutimos, uma síntese pode ser feita: Há uma atitude a ser construída em relação ao que temos pela frente, quase a única coisa que temos, que é o nosso futuro, cheia de altos e baixos, mas com saldo positivo, inspirador e motivante.
Autor: Murilo Sampaio