A mente é decorrente de um processo cumulativo.
Somos sentidos, instintos, emoções… Éramos, somos e seremos alma em vida. Mas, em algum momento, veio a palavra.
Fez-se a palavra; primeiro, a falada, depois a escrita, a impressa, a científica, a imagética, a tecnológica… E a mente, esse processo complexo e contínuo de apropriação infinita, colorido e preto e branco, foi ocupando o eu e o outro, o todo e tudo. Hipertrofiou-se, quase fagocitando o que lhe viera antes. Atrofiados, os inúmeros sentidos, no entanto, continuam a nos habitar.
Diante do real, a lógica prepondera e prospera dentro de nós, mas ela não está só e tampouco basta. Precisamos integrar as diferenças e os opostos que não só vivem em nós como também misturam os sentidos e a imaginação.
A dialética é a educação (e união) dos sentidos com a palavra que desenvolveu o homem que somos hoje.
Para analisar e tentar apreender o universo, tivemos que dividi-lo ao alcance de nosso trabalho transformador e evolutivo. Criamos deuses à nossa imagem e deles nos tornamos criaturas para, dialeticamente, responder com religiões e dogmas. Enquanto nos satisfizermos apenas com teses e não nos educarmos a espiralar suas antíteses e sínteses, teremos chances menores de apaziguar os sentidos e a ciência que nos habitam.
A atitude dialética deve estar presente na cena diária de nossa vida, seja na família, no trabalho ou na sociedade, mas sobretudo, internamente, em nós mesmos, como em uma busca contínua para transformar nossos diálogos com sentido e razão.
Autor: Murilo Sampaio