Síntese do gerente dialético

A maior das criações humanas, de longe, foi a linguagem verbal, cuja origem não se tem consenso acadêmico até hoje. Foi a maior vantagem competitiva dos Sapiens que deu início ao processo civilizatório do qual participamos e continuaremos a participar.

Inventariar o universo através das palavras criadas é tão útil e necessário quanto limitado. Nossos sentimentos e circunstâncias são sempre descritos e repassados com certo grau de reducionismo. Os grandes literatos e poetas diminuem essa distância, mas ela sempre existirá.

Em nosso mundo organizacional não é diferente. A metáfora da máquina que inspirou as empresas no século passado ainda persiste apesar dos novos caminhos que se abrem pela evolução epistemológica da relação entre os seres humanos, sua diversidade, sua relação com o ambiente e a tecnologia.

A substituição dessa metáfora é complexa. Em 1996, publiquei um livro chamado “Diagnosticando a empresa viva” que propunha a célula como uma possível metáfora para reconceber possíveis estruturas organizacionais.

Para operacionalizar essa estrutura surgia a figura da “liderança dialética” capaz de lidar com os diferentes papeis que os seres humanos desempenham para que as empresas deixassem apenas de “funcionar” e passassem a evoluir.

Essa convergência de uma abordagem filosófica, no caso, a dialética (como método de divisão, Platão; como lógica do provável, Aristóteles; como lógica, Estóicos; e como síntese dos opostos, Hege) com determinados aspectos das teorias de administração deu origem ao construto “gestão dialética” ao qual me dedico até hoje.

Acho que novas estruturas (esse nome também será reinventado) emergirão para lidar com as novas organizações, sobretudo as empresariais nas quais eu milito.

Quando comecei a liderar empresas, havia um muro invisível que separava a empresa e a sociedade. A máquina empresarial funcionava e a sociedade ficava do outro lado do muro. A pessoa ao entrar na empresa virava funcionário e ao sair assumia seus papeis diversos, inerentes ao humano. Acreditem! Era assim! Sua empresa ainda é assim?

Pulando etapas do “modelo celular” de empresa (quem tiver interesse, no meu site o modelo está descrito), a figura do líder dialético pode ser objeto de reflexão a partir das simples questões:

“Sou empregado para o patrão;
Patrão para o empregado;
Cliente para o fornecedor;
Fornecedor para o cliente.”

Afinal, quem sou eu? Eu sou o líder que operacionaliza o dia a dia, suas contradições, antagonismos, futuros cada vez mais imprevisíveis e a fusão das empresas e circunstâncias sociais.
Temos que ter todos esses papéis:
Patrão, empregado, cliente e fornecedor e,
ao mesmo tempo, nenhum deles apenas. Sou a síntese de todos os antagonistas da cena diária.
Sou aquele que operacionaliza o possível no espaço empresarial”. E tudo isso com todos os muros desaparecendo.

Como você resumiria a leitura de sua empresa? Ela ainda está inspirada na metáfora maquinal ou já se baseia em novas metáforas inspiradoras? Seu líder ainda é algo mais parecido com as chefias em extinção ou já pode ser considerado como alguém que cola os lados bons das pessoas com uma visão inspiradora de futuro?

Tenho interesse em conhecer todas as metáforas que já são utilizadas! Aproveito para pedir que me mandem comentários que possam enriquecer essa discussão.

Autor: Murilo Sampaio

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